Distribuição de renda e o mercado de ações

25/03/2024

O meu objetivo aqui não é filosofar sobre este tema polêmico. Quero te apresentar alguns fatos, algumas premissas e tirar algumas conclusões. Assim, partindo de dados referentes a economia dos EUA, vamos a eles:

1. Não é uma surpresa para ninguém que a renda e os bens acumalados nos EUA estão bem concentrados (no Brasil é muito pior). Como você pode observar abaixo, de um total de ativos líquidos de aproximadamente 150 trilhões de dólares, 67% do total pertence ao grupo dos 10% mais ricos do país. O grupo do 1% mais rico detém 30% do patrimônio líquido -- um montante que é quase 10x superior ao patrimônio nas mãos do grupo que representa os 50% mais pobres da população.


Premissa 1: Em economia (ou mesmo na vida) o que realmente importa são as mudanças marginais. O pobre que passa por melhorias econômicas pode estar bem mais feliz do que o rico que passa por adversidades.

Premissa 2: A inflação de mercadorias é produzida por um aumento expressivo na renda da classe mais pobre. Já o aumento da riqueza na classe mais abastada, tende a provocar inflação de ativos (ações e outros bens). (premissa inspirada nos estudos feitos pelo ex-Goldman Sachs, Jeffrey Currie)


2. Desde a pandemia e as transferências de renda feitas pelo governo norte-americano, a classe mais pobre dos EUA viu seu patrimônio líquido crescer a uma taxa (87%) que foi quase o triplo da média registrada pelas outras classes da população. Tal fenômeno certamente contribuiu para a inflação (de mercadorias) elevada nos últimos anos. Já o grupo dos ultra milionários (top 0,1%) também viu seu patrimônio disparar de forma significativa (47%), fruto da inflação de ativos que também ocorreu no país.



Premissa 3: Pensou em renda variável, invista nos EUA. Pensou em renda fixa invista em... em um passado distante, era na Alemanha. Hoje em dia, pensou em renda fixa, invista em títulos emitidos em mercados emergentes. Em particular, Brasil e México apresentam taxas de curto prazo a níveis convidativos combinados com uma situação cambial estável.


3. Nos EUA, os 10% mais ricos detém 87% das ações (listadas e não listadas) do país. (novamente... em se tratando de distribuição de renda, tudo que se refere ao Brasil é bem pior do que o que se observa nos EUA).

Conclusões:

1. A resposta econômica das autoridades no pós-pandemia provocou inflação de mercadorias e de ativos. Do ponto de vista da inflação, a boa notícia, como podemos observar no segundo gráfico, é que tal fenômeno parece ter sido temporário. A má notícia é que a crescente concentração de renda deverá fazer com que políticos democratas busquem combater o problema da desigualdade através de medidas que eventualmente resultarão em mais inflação.

2. As respostas políticas e monetárias das autoridades provocaram fenômenos como o que vem sendo chamado de "Excepcionalismo dos EUA". Tal fenômeno se expandiu para outros países desenvolvidos e vem provocando uma busca por ações de empresas detentoras de marcas globais (Ferrari, LVMH, Hermès, Granolas, S Club 7, e muito mais).

3. Muito se fala que é chegada a hora de um rebalanceamento global, pois os ativos fora dos EUA apresentam retornos potenciais ("earnings yields") que são os maiores da história dos últimos 25 anos. Quem diz isso é a turma da AQR, famoso fundo capitaneado pelo gestor Cliff Asness.

Marink Martins

www.myvol.com.br