Vento contrário na China
Nesta sexta-feira, temos uma reportagem no Valor Econômico que diz que a China vive uma situação sem precedentes de saída de recursos. Paralelamente, a Gavekal publica hoje um artigo cujo título é um questionamento um tanto perigoso: "Is it finally crash time in Hong Kong?" (É chegada a hora de um colapso na economia de Hong Kong?)
Em setembro do ano passado, os mercados foram abalados pelo caso da construtora chinesa Evergrande. Na ocasião, aquilo que parecia ser o início da bolha imobiliária chinesa acabou sendo contornado por medidas que tinham como objetivo estabilizar os mercados. O ano de 2022 começou, e sinais de que uma expansão creditícia por lá era iminente chegou a gerar certo otimismo junto a investidores globais. O ETF KWEB se valorizou e a taxa de câmbio CNY/USD chegou a cair para 6,31!
No mais recente MYCAP Tendências Globais, exploro o seguinte tema: Ainda vale a pena investir em ações chinesas?
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De repente tudo mudou. E para pior! Ainda que o banco central chinês tenha se mostrado disposto a cortar a taxa de juros e o governo chinês tenha se comprometido com posturas mais "market friendly" (amigáveis ao mercado), o ceticismo em relação aos ativos chineses persiste.
Conforme mencionei no vídeo Tendências Globais, existem diversos ventos contrários afetando a economia chinesa. Vou buscar aqui listar alguns destes respeitando uma certa cronologia:
1. Ceticismo com medidas para conter o estouro da bolha imobiliária -- Neste sentido, vale destacar que as taxas de juros dos títulos emitidos por construtoras chinesas permanecem extremamente elevadas.
2. Expansão creditícia -- Esta ainda é considerada tímida pelo mercado. Neste ano em que Xi Jinping deverá ser alçado a um terceiro mandato, a palavra da vez é estabilidade. Além disso, há ceticismo por parte dos agentes no que diz respeito à inflação chinesa. Muitos especulam que a inflação ao consumidor na China está sendo subestimada.
3. Aproximação com a Rússia -- O acordo entre Xi Jinping e Putin no início dos jogos olímpicos de inverno vem contribuindo para uma postura de cautela por parte de investidores que temem que a China sofra sanções análogas as impostas a seu parceiro regional.
4. Covid -- Enquanto o resto do mundo celebra o fim da covid, os chineses estão implementando políticas de lock down em linha com a meta de covid-zero; algo que certamente representa um freio a atividade econômica do país.
5. Aumento na taxa de juros dos EUA -- Com o iminente aperto monetários nos EUA, crescem as preocupações com relação ao mercado imobiliário de Hong Kong -- o mais caro do planeta. Na crise asiática, iniciada em 1997, houve uma queda brutal no preço dos imóveis. Ainda que os especialistas descartem a possibilidade de um cenário parecido com aquele visto nos anos 90, a simples associação entre o momento atual e aquele já afasta investidores.
Por tudo isso, é importante que o investidor brasileiro saiba que no curto prazo estes "headwinds" (ventos contrários) poderão ganhar intensidade e alterar o humor do investidor global no que diz respeito a mercados emergentes.
Marink Martins