TGA, Conta Margem e Investimentos Temáticos

13/04/2021

No texto de ontem argumentei que a principal razão para este comportamento atípico visto no mercado americano está relacionado a redução no saldo na conta TGA ("Treasury General Account") que o Tesouro dos EUA mantém no FED. Tal saldo vem sendo reduzido de forma acelerada; estava em 1,65 trilhões de dólares em fevereiro e já está em 1,010 trilhões. A expectativa é de que tal processo de redução persista até que o saldo se estabilize próximo a 500 bilhões. 

Curiosamente, isso ocorre em início de mandato presidencial de forma não muito diferente do que vimos em 2017 -- primeiro ano do governo Trump. Naquela ocasião, também testemunhamos um colapso na volatilidade dos mercados, com o índice S&P 500 subindo, quase que diariamente, de forma lenta. Era um período em que, devido a benefícios fiscais, muitas empresas embarcaram em um processo de recompra de ações. Assim, em momentos de adversidades, as ações caíam pouco, pois havia sempre um comprador dando sustentação aos preços. 

O momento atual é diferente. Os EUA estão saindo de uma crise de forma inusitada, sem que os trabalhadores tenham sofrido uma redução em sua renda. O percentual dos americanos com investimentos em ações atinge níveis similares aos registrados em 1999/2000; um patamar de 53%! Além disso, como podemos ver através do gráfico abaixo, o uso da conta da margem atinge recordes quando comparado ao PIB do país. 

E não é só isso! Vivemos uma época em que a conectividade e a mídia nos levam a olhar o mercado de um ponto de vista temático. Há quem invista em ações alinhadas com princípios ESG. Outros optam por tecnologias inovadoras. Para cada tema, um ETF. 

O fato é que a redução nos juros tornou a bolsa POP. Se em 1999/2000 havia estrelas como Abby Joseph Cohen, da Goldman Sachs, Mary Meeker, do Morgan Stanley, Henry Blodget, do Merryll Lynch, hoje temos a Cathy Woods, da Ark Investments, o Adam Jonas e a Kate Huberty, ambos do Morgan Stanley.

Aqui no Brasil, diversos gestores, que no passado eram introvertidos, foram a público promover os seus fundos e suas ideias.

O grande problema é que a maioria dos investidores que investem via ETFs entendem pouco a respeito dos ativos que estão dentro de uma cesta de ações. Nas últimas semanas dois ETFs temáticos amargaram quedas significativas: o KWEB e o TAN. O primeiro investe em ações inovadoras chinesas e despencou diante dos problemas da Archegos Capital. Já o segundo investe em ações associadas ao tema da energia solar e caiu devido ao fato de ter subido demais. 

A minha percepção é que há diversos desequilíbrios nos mercados. Lembrando o ciclo de 1999/2000, vale dizer que no segundo semestre de 1999 todos sabiam que as ações estavam caríssimas, mas, mesmo assim, elas continuaram subindo. Julgo que algo similar está em curso neste momento. As ações americanas continuarão a se valorizar e impactar as ações de outros países (através do trade da convergência) até que haja uma interrupção neste ciclo de liquidez. Neste sentido, é importantíssimo monitorar o saldo na conta TGA semanalmente!

Marink Martins

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