Temas discutidos por Louis Gave
Abaixo, compartilho algumas reflexões feitas por Louis Gave, fundador da Gavekal, em uma recente apresentação para investidores institucionais.
Será que a inflação atual, vista ao redor do mundo, é transitória?
Uma tese interessante é a de que a inflação atual está associada a diversos fatores, com destaque para os seguintes:
- Uma reversão do processo de globalização após a guerra comercial instaurada por Trump em 2018.
- A iminente transição energética focada em processos de descarbonização.
- Mudanças demográficas na China e processo de "suburbanização" nos EUA.
Louis sugere uma reflexão a respeito das seguintes perguntas:
- Quem estaria disposto a construir novas fábricas de semicondutores ciente de que a China entrará neste mercado de forma agressiva, buscando eliminar sua vulnerabilidade após os EUA terem praticamente aniquilado a expansão da empresa Huawei? (reversão da globalização)
- Quem estaria disposto a investir em novos poços de petróleo ciente de que o mundo caminha para uma economia sustentável, cada vez mais distante dos combustíveis fósseis?
- Como atrair mão-de-obra nos centros urbanos dos EUA, uma vez que muitos se deslocaram para os subúrbios, enquanto outros (os trabalhadores acima de 50 anos) optaram por se aposentar?
Uma conclusão é que estamos transitando de uma era marcada pela abundância para uma era da escassez.
Neste mundo, as carteiras de ações devem ter como foco empresas voltadas ao que o consumidor precisa ao invés de empresas voltadas ao que o consumidor deseja.
Uma outra questão endereçada pelo estrategista especula a respeito de que evento poderá contribuir para um choque desinflacionário que trará a inflação para níveis mais razoáveis.
Na China, apesar da desaceleração econômica vigente, não parece ser uma boa candidata. Por lá, o país persiste com a política de "Zero-Covid" e deverá mantê-la pelas seguintes razões:
- Prestígio do PCC no combate a Covid junto aos cidadãos chineses.
- Preparação para as olimpíadas de inverno.
- Plenário chinês em outubro de 2022 que deverá indicar Xi Jinping para um terceiro mandato.
- Seria vergonhoso para os líderes chineses se fosse provado a ineficácia de suas vacinas em comparação com as vacinas ocidentais.
Além disso, as empresas chinesas estão mudando sua forma de atuar, deixando de lado a velha cultura de crescer a qualquer custo. O choque regulatório fez com que os empresários passassem a entender que ter um tamanho menor passou a ser mais interessante.
Curiosamente, o estrategista argumenta que este processo é um em que o mais provável é vermos a China com um câmbio mais forte e com um uso mais eficiente de sua capacidade instalada. Este processo, em si, tende a contribuir para uma maior inflação global.
E se o processo de desinflação não vier da China, será que virá dos EUA? Da Europa? Neste momento, dentre os dois candidatos, o velho continente parece mais vulnerável. Todavia, não devemos ignorar a possibilidade de que o período inflacionário simplesmente persista por um período mais longo do que muitos estão prevendo. Isso, pelo menos inicialmente, não é algo negativo para os mercados. Tudo vai depender das respostas das autoridades monetárias.
Marink Martins