Sexta-feira da confirmação
A semana que se iniciou de forma turbulenta nos mercados -- diante do caso Evergrande -- testemunhou uma forte recuperação no dia de ontem. Já as perspectivas dos mercados para esta sexta-feira parecem mais desafiadoras.
Nas últimas 48 horas tivemos, tanto o governo chinês como o governo americano, soando o sinal de alerta para seus respectivos públicos. No caso chinês, uma mensagem para que os governos locais se preparem para o colapso da Evergrande deixou o resto do mundo preocupado. Já nos EUA, a mensagem enviada foi para que agências federais se preparem para uma eventual paralisação do governo americano ("shut down").
Expressões como "colapso" e "paralisação" certamente assustam! Em um passado distante -- época anterior aos estímulos monetários dos BCs -- os mercados certamente acusariam o golpe. Em um cenário de maior incerteza, o VIX (expectativa de oscilação do índice S&P 500 para os próximos 30 dias) provavelmente estaria acima de 30% e os preços das ações de empresas consideradas de "longa duração" estariam sofrendo bastante. De forma mais simples, poderíamos dizer que os "growth stocks" americanos estariam se comportando de forma análoga ao comportamento das ações da MGLU3 nas últimas semanas. Mas, no hemisfério norte, a história é outra. Com o FED atuando como um pai, os filhos ("growth stocks") estão de peitos estufados, aproveitando todas as quedas nas bolsas para adquirir mais e mais ações.
Mas a sexta-feira não é só incerta para as bolsas. O mundo dos crypto ativos foi abalado pela decisão da China que decretou que qualquer atividade neste mundo passa a ser considerada ILEGAL na segunda maior economia do planeta. Neste sentido, fica a dúvida: será que um processo de aversão a risco no mundo crypto poderá afetar negativamente o sentimento do investidor americano?
E por falar em contágio, penso que muitos investidores estão simplesmente ignorando a possibilidade de contágio por via de portfolio. É comum ouvir no noticiário que o caso Evergrande não deve afetar outras regiões que não a China. Contudo, muitos esquecem que o tamanho do setor de construção civil é de 60 trilhões de dólares.
Observe que o "Bloomberg Barclays Asia High Yield Diversified Index" conta com uma alocação de quase 30% para títulos emitidos por empresas de construção civil da China. Deste total, 1,6% se refere a títulos emitidos pela Evergrande que já negociam abaixo de 30% de valor de face. Os outros 28% se referem a títulos emitidos por outras construtoras chinesas cujos preços dos títulos permanecem rondando os 80% de valor de face. Historicamente, são as quedas na renda fixa de 80% para 30% de valor de face que tendem a provocar maiores adversidades quando o tema é contágio entre classes de ativos.
Por tudo isso, esta sexta-feira é muito importante para sabermos se os mercados estão prontos para deixar o mau humor de lado. Penso que ainda é precoce. Todavia, Powell -- que faz um discurso às 11:00 -- poderá acalmar seus discípulos.
Marink Martins