Seus BDRs podem ser "desagiados"!

27/12/2024

Confesso que a facilidade de dolarização dos investimentos de varejo -- conforme mencionada por Tony Volpon no post abaixo -- sempre foi algo que me surpreendeu. 

Os veteranos do mercado sabem que, em um passado distante, as coisas eram bem diferentes por aqui. Nos anos 90, por exemplo, havia um tremendo deságio no preço das ações ordinárias da Petrobras em relação ao preço das ações preferenciais. Isso ocorria, pois os investidores estrangeiros estavam proibidos de adquirir ações ordinárias da petrolífera brasileira. 

Antes do advento do Novo Mercado era comum observarmos um deságio das ONs em relação as PNs que podia superar 20% em algumas ocasiões. Tal fenômeno ocorria em função, não só da liquidez de cada classe de ativo, mas também devido a expectativas em relação ao pagamento de dividendos. 

Em 2002 -- em um momento em que o país enfrentava adversidades fiscais significativas -- foi implementada a cobrança da CPMF de 0,38% sobre movimentações financeiras. Por um período de um pouco mais de um mês, tal cobrança incidiu sobre as operações de bolsa de valores, impactando negativamente a liquidez dos mercados. Não demorou muito, e as operações de bolsa, assim como as movimentações associadas as "chamadas de margens", foram isentas. 

Chamo sua atenção a estes eventos, pois vivemos na atualidade uma espécie de fuga de capitais. Sendo assim, não devemos descartar a possibilidade de que esteja em estudo a implementação de IOF sobre negociações de BDRs e ETFs estrangeiros. 

Caso isso venha a ocorrer, o mais provável é que tais ativos passem a negociar com um deságio significativo em relação aos preços praticados em seus mercados de origem. Isso se daria em função, não só da tributação, mas também devido ao impacto que tal medida poderá ter na liquidez diária de tais ativos. 

Aquele que conhece a relação de preço entre as ações chinesas "A-Shares" e "H-Shares" sabe muito bem do que estou falando. O fato é que momentos de crise exigem medidas impopulares e surpreendentes. E neste sentido, a incidência de IOF sempre foi uma ferramenta útil ao governo brasileiro. E mesmo em casos onde o IOF já se faz presente, há sempre o risco de elevação de tal tributo.

Marink Martins




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