Riso sem motivo

05/09/2024

Ainda que Nietzsche tenha dito que não há verdades, somente interpretações, posso apostar que amanhã -- mais precisamente às 9:30 de Brasília -- a mídia financeira irá proclamar algo definitivo a respeito da economia americana. Um número forte (criação de > 175.000 empregos) fará com que afirmem a tese de "pouso suave" ("soft landing"). Já um número fraco (criação de < 175.000 empregos) fará com que afirmem a tese de recessão iminente, o que despertará o clamor por um corte de 50 basis points na próxima reunião do FED.

Há quem diga (o famoso Jim Cramer é um deles) que ambos os cenários tendem a ser positivos para as ações. Será? Bem, o VIX (expectativa de oscilação para 1 mês) está em 21% neste momento. Já o VIX, para 3 meses, está em 22%. O VVIX -- que mede a taxa de variação do próprio VIX -- subiu bastante e está em 123.5. Em suma, temos um cenário de expectativa de oscilação que parece embutir um nervosismo silencioso. Algo que nos faz lembrar de crises de risos sem motivos que a ciência chama de Transtorno da Expressão Emocional Involuntária.

Venho afirmando em meus comentários que o nível de complacência dos americanos está atingindo uma máxima histórica. Me parece que boa parte dos agentes foi picada pelo mosquito da inteligência artificial que parece fazer com que negligenciem o risco que se faz presente nos preços de mercado das grandes empresas dos EUA. No entanto, este meu comentário é pura interpretação da minha parte, sem qualquer comprovação científica.

Acima, temos uma imagem mostrando que a curva de juros dos EUA está em processo de des-inversão. Historicamente, tal evento resultou na ocorrência de recessões em um prazo que variou entre 6 e 24 meses. 

Se afastando um pouco do achismo, permita-me elencar alguns temas que merecem uma boa reflexão:

1. Declínio da taxa de juros nos EUA -- o que a princípio parece ser positivo para as empresas, tende a ser negativo para as "Big Techs". Afinal, elas possuem poucas dívidas e muito caixa. Assim, a receita financeira destas empresas -- que tanto contribuiu para o aumento da lucratividade nos últimos dois anos -- tende a ser negativamente impactada.

2. Lançamento do Iphone 16 -- Será que estamos diante de um ciclo de "upgrade" análogo ao que foi visto na época do lançamento do Iphone 12? Penso que este lançamento poderá frustrar muitos investidores, pois a possibilidade de se comprar um Iphone 16 com "Apple Intelligence" estará restrita a americanos. Europeus e chineses não terão acesso no curto prazo devido a restrições locais.

3. Eleição -- O mercado parece ignorar o risco de aumento de impostos, de maior protecionismo, e de menor impulso fiscal.

Sim, sou fã de Nietzsche e o que busco apresentar aqui é uma interpretação dos fatos que é definitivamente mais negativa em relação às ações de empresas norte-americanas. A boa notícia é que acho que as ações brasileiras deverão exibir um comportamento mais robusto, mais "descolado" da performance do S&P 500. Bem, essa é somente a minha interpretação. Que venha o "payroll" de sexta-feira.

Marink Martins


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