Reminiscências de uma outra época em que a Vale estava uma pechincha

26/02/2021

Foi em 2014 que, atuando pela ICAP, comecei a fazer uma série de eventos corporativos com Roberto Castello Branco que hoje preside a Petrobras. Na ocasião o executivo estava vivendo um período sabático, após ter concluído uma brilhante carreira na área de Relações com Investidores da Vale.

Assim, organizamos diversos encontros com investidores institucionais. As ações da Vale negociavam acima de 30 reais e havia uma percepção de que tais ações estavam baratas. Indicadores como EV/EBITDA indicavam que a empresa estava uma pechincha.

Contudo, o preço do minério estava acima de 100 dólares/ton. Sabe-se que o valor da Vale, em particular, sofre muito diante da percepção do mercado quanto ao que está por vir em termos de preços do minério de ferro.

Era época de Copa do Mundo no Brasil e tivemos a visita de um amigo que era analista de mineração do banco australiano Macquarie. Estávamos assistindo o jogo entre a Argentina e a Inglaterra no telão da praia de Copacabana quando, em um bate papo casual no intervalo do jogo, ele disse que estava extremamente pessimista quanto ao preço do minério de ferro. Sua previsão era de um colapso no preço para níveis de 60 dólares. Isso, em um período, em que os pessimistas apontavam para 90 dólares/ton.

 
Na verdade, o próprio Roberto Castello Branco acreditava que o preço do minério se sustentaria em níveis próximos a 100 dólares.

Resumo da história: o preço do minério despencou em 2015 e levou consigo o preço da Vale. O que era barato, ficou muito mais barato.

A Vale tem dessas coisas... fica barata ou cara em função da percepção do mercado quanto aos preços futuros da commodity. Gostaria de dizer que as ações da Vale estão na moda. A empresa é uma das maiores produtoras de níquel no mundo -- uma das commodities mais importantes neste ciclo ambientalista que se apresenta. Além disso, a empresa produz cobre, também crucial ao mundo da eletrificação. Mas, se com tudo isso, a empresa negocia a um múltiplo próximo de 3x EV/EBITDA, concluo que a variável de ajuste só pode ser aquela associada ao preço do minério. Por tudo isso, uma das operações financeiras mais convidativas do momento tende a ser a seguinte: compra VALE3 e vende contratos futuros do minério de ferro.

Como fazer isso? Bem, não quero transformar este texto em uma recomendação. Trata-se de uma reflexão que certamente pode estar ignorando outros fatores importantes. De qualquer forma, é algo que merece uma maior investigação.

Marink Martins

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