Que venham os leilões!

28/09/2021

Leilões de treasuries são sempre comentados por Rick Santeli na CNBC. 

Refiro-me aos leilões de títulos públicos nos EUA. Não é de hoje que faço alertas ao rápido declínio do saldo em caixa na conta do Tesouro dos EUA (a tal da "TGA"). Pois é, chegamos a um ponto em que a principal economia está na iminência de um calote devido a tecnicidade conhecida como "teto do endividamento". Enquanto a mídia brinca com a possibilidade de calote, os mais conscientes refletem a respeito dos impactos associados a um processo de normalização do saldo da TGA que, convenhamos, é inevitável.

Os EUA não deixarão de honrar com o seu endividamento! Isso é certo. É possível que haja uma paralisação de algumas atividades no governo. Isso já ocorreu em 2 ocasiões nos últimos 15 anos.

O mais preocupante, em minha opinião, é que, uma vez autorizado um maior endividamento do país, o Tesouro terá que realizar uma série de leilões de "treasuries" para elevar o saldo da TGA para um patamar aceitável.

Ontem mesmo, o Tesouro levantou 60 bilhões de dólares através de "treasuries" de 2 anos. O leilão foi tenso e resultou em uma taxa superior a registrada anteriormente. O mercado está ciente do volume de recursos que terá que ser captado e, com isso, já começa a pedir por mais prêmio. Assim, a curva de juros dos EUA começa a se inclinar gerando um mal estar nas bolsas que se manifesta através de um menor grau de atratividade dos ativos considerados de longa duração -- dentre eles, as ações do setor de tecnologia.

Esse processo não só representa o drama do momento, mas também o principal risco de declínio nos principais índices. Temos em curso o que em economia chama-se de "crowding out effect", com o Tesouro absorvendo um dinheiro que, em tese, poderia estar sendo direcionado para ativos de risco. Este processo de reversão de liquidez tende a ser nefasto para os ativos de risco.

Para piorar, temos uma crise energética que afeta negativamente a China, a Europa e o Brasil. No Reino Unido a situação é ainda pior, pois os efeitos perversos do BREXIT mostram a sua cara na forma de escassez de mão de obra e de outros produtos de necessidades básicas.

E como isso impacta a bolsa brasileira? Bem, a resposta não é tão óbvia. É possível que a Petrobras se mantenha forte durante esse período de valorização do petróleo, compensando assim o recuo no preço de ativos de longa duração como Magazine Luiza e outras empresas que negociam com múltiplos na estratosfera. Tudo isso, naturalmente, irá depender da intensidade dos movimentos discutidos acima. Uma inclinação mais intensa da curva de juros dos EUA poderá gerar um mau humor análogo ao evento que ficou conhecido como "taper tantrum" de 2013/2014. Vamos ver.

Marink Martins

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