Quando a renda fixa está "mais nervosa" do que a renda variável

06/09/2021

A esta altura boa parte dos leitores já estão familiarizados com a métrica VIX -- que mede a expectativa de oscilação do mercado para o índice S&P 500 para os próximos 30 dias. Ainda não tão divulgado, está o MOVE -- uma métrica similar ao VIX, mas com a diferença de tomar como base, não o índice S&P 500, mas sim um índice composto de títulos do tesouro dos EUA de diversos prazos.

Em um passado não tão distante, o mais comum era vermos um VIX "mais nervoso" do que o MOVE. Contudo, vivemos um período de transição, marcado por um maior ceticismo dos agentes no que diz respeito à capacidade dos governos de honrar com seus crescentes endividamentos. É fato que a pandemia fez com que as finanças públicas de quase todos os países se deteriorassem de forma acentuada.


Nos EUA, em particular, observa-se uma forte participação de seu próprio banco central (o FED) como o comprador de última instância dos títulos públicos emitidos pelo tesouro nacional daquele país. Por isso, conforme podemos ver no gráfico abaixo, vivemos uma situação atípica em que o MOVE vem se elevando enquanto o VIX se desloca em direção contrária:

Na semana passada, mencionei por aqui a tese que muitos agentes globais vem comprando ações nos EUA em substituição a uma alocação que, no passado, fora direcionada a renda fixa. Um outro gráfico -- este preparado pela equipe de "private banking" do Bank of America -- nos mostra como a alocação destinada a renda variável registra uma máxima histórica.

Infelizmente, todo este apetite a risco tem se mantido restrito aos EUA e a Europa -- ambas as regiões registram retornos acumulados em seus principais índices de bolsa superiores a 20%. No resto do mundo, o que observamos é um movimento contracionista devido a processos inflacionários incipientes.

 
Chamando a atenção nos últimos dias, temos a bolsa japonesa registrando forte valorização. Há quem veja este movimento com enorme otimismo. Outros, como Charles Gave, já vê esta situação como uma busca por proteção. Na opinião do veterano estrategista, os ativos japoneses são um ótimo instrumento de antifragilidade em um mundo que, a cada dia, me parece mais vulnerável.

 
Marink Martins 

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