Prometa pouco e surpreenda!
Há tempos os americanos adotaram o lema UPOD ("under promiss -- over deliver"). Traduzindo: prometa pouco e surpreenda! Esse não é só um lema de Wall Street, mas algo que faz parte da cultura. Afinal, surpreender positivamente é algo que é quase sempre bem vindo. Contudo, em se tratando do mundo financeiro, a cultura UPOD tende a culminar no que o gestor Jim Chanos chama de a era de ouro da fraude!
Observe que, em todas as situações acima, as barras azuis quase sempre registraram um crescimento superior ao das barras cinzas -- a exceção ocorreu no primeiro trimestre de 2020, devido ao choque do início da pandemia. Isso não ocorre por acaso.
Todavia, surpreenda alguém continuamente e, cedo ou tarde, temos como resultado um comportamento condicionado. (o russo Ivan Pavlov nos mostrou isso em seus experimentos -- o famoso cão de Pavlov). Pois é, o mercado está hoje condicionado a ser surpreendido, de forma que qualquer resultado um pouco acima da expectativa é visto como algo frustrante.
Foi justamente isso que ocorreu com as ações dos bancos americanos que divulgaram seus resultados nesta terça-feira. Tanto o JP Morgan como o Goldman Sachs viram suas ações caírem apesar de resultados bem superiores às expectativas.
Historicamente, quando tal correlação se aproxima de extremos, as tendências são alteradas. No dia 23 de março de 2020, o índice S&P 500 fez mínima justamente no momento em que a correlação entre os 5 setores batia 0,99. Agora estamos flertando mais uma vez com o outro lado do espectro.
Por tudo isso, ao se preparar para a temporada de balanços que se aproxime, foque sempre no ITR das empresas -- aquele demonstrativo que transita pela CVM. Evite sempre o tal do "earnings release", pois este é, em grande parte, um instrumento da área de marketing das empresas (também conhecido como RI - Dept. de Relações com Investidores) viciado na cultura UPOD.
Marink Martins