Prepare-se para o rebalanceamento de fim de trimestre

30/03/2022

No texto de ontem argumentei que os "vendidos" vivem um momento de recapitulação. Durante esta terça-feira, evidências que corroboram tal argumento estiveram mais presentes no comportamento das ações brasileiras do que no das ações americanas. No Brasil, o contrato futuro do IBOV abril acima de 121.000 pontos, puxado pelas ações da Petrobras e do varejo, mas foi perdendo força até fechar mais próximo da mínima do dia.

Já nos EUA, é impressionante a magnitude do "short squeeze". As ações da Apple vem se apreciando por 11 dias consecutivos; o maior ciclo de valorização desde 2003, época em que o valor de mercado da empresa era uma fração do valor atual.

Mas, por que argumento que o movimento atual é um "short squeeze" e não o início de um novo "bull market"? Cito aqui algumas razões:

1. A intensidade do movimento de alta é típica de um "rally" em um "Bear Market". O caso da Apple é um exemplo marcante, uma vez que esta é a empresa mais valiosa do mundo, e é também aquela que está presente nas carteiras globais (A ação da Apple é "widely held"). Em 2008, nos momentos em que o pessimismo dos mercados atingiu pontos extremos, observamos movimentos de alta que foram intensos, ainda que não tão longos como este que estamos observando.

2. A falta de participação dos bancos. Estamos claramente em um cenário de elevação das taxas de juros, algo que, no curto prazo, é excelente para os bancos americanos. No entanto, o que observamos é pouca demanda para as ações do JP Morgan, Goldman Sachs e outros. O mercado vem preferindo comprar as "big techs" e as ações especulativas ("meme stocks" como AMC, Gamestop, e as ações que compõem o ETF ARK Innovation da gestora Cathy Woods). Na minha opinião, o mercado vem "zerando" posições vendidas, ao invés de estar montando novas posições, como normalmente ocorre em um típico "bull market".

3. Embora o VIX tenha caído de 36% para 19%, a volatilidade permanece alta em outras classes de ativos. O que observamos foi uma transferência da VOL da área de renda variável para a renda fixa e para os pares cambiais. A forte depreciação do iene (um movimento de 7 sigmas) é um indício de que há algo muito estranho nestes mercados.

É possível que nestes últimos dois dias do trimestre (não se esqueça do fenômeno conhecido como "window dressing" -- "enfeitando o pavão") tenhamos mais evidências. Estrategistas esperam por um forte movimento de rebalanceamento das carteiras que deverá ocorrer nas próximas horas.

Neste sentido é importante destacar que "portfolios" adeptos a famosa alocação 60/40 (60% em renda variável e 40% em renda fixa) provavelmente estarão sujeitos a algum tipo de rebalanceamento que deverá favorecer a compra das "penalizadas" treasuries dos EUA em detrimento das "valorizadas" ações.

Se, após tudo isso, as ações americanas permanecerem fortes, e as da Apple estiverem caminhando para um décimo quarto dia de alta, aí eu vou ter que "capitular". Até lá, permaneço atribuindo uma maior probabilidade de que os "vendidos começaram a jogar a toalha" nesta terça-feira nas ações brasileiras e que tal movimento deverá se intensificar nos próximos dois dias. Vamos observar.

Marink Martins

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