"Plot Twist"

13/12/2024

"Plot twist" é um termo em inglês que significa "reviravolta na trama" e é usado para descrever um momento surpreendente em uma história. E é isso que irei buscar explorar no texto abaixo.

Vivemos em um período em que parece haver um consenso global de que o único lugar para se investir de forma lucrativa é nos EUA. Curiosamente, o pessimismo presente entre gestores focados em ativos brasileiros é o mesmo que predomina entre gestores voltados a ativos europeus e chineses. Esta época denominada de "excepcionalismo americano" pode ser resumida de forma lúdica através de expressões como as seguintes:

"US Big Tech can't do no wrong"

"Elon Musk can't do no wrong"

"Trump can't do no wrong"

"The USD can't do no wrong"

Em meio a tudo isso, a fortuna de Elon Musk "no papel" já supera meio trilhão de dólares! Sim, o gênio da inovação enriquece a cada dia na medida em que os preços de suas ações da TESLA, da Space X e da xAI não param de subir. Ao contrário das lucrativas Nvidia, Apple, Google, Microsoft e Meta, o império de Musk se valoriza à base de percepção; de forma análoga ao que vem acontecendo no mundo dos cripto ativos.

Já o conservador Warren Buffet acumula hoje um estoque de "treasury bills" (títulos emitidos pelo tesouro dos EUA de curto prazo) que o torna o maior credor dos EUA nesta classe de ativos, superando os fundos soberanos e importantes bancos centrais. Em suma, a festa está "rolando" em Wall Street, mas o velhinho de Omaha só quer saber de investir na versão "tesouro-selic" dos EUA.

E é justamente em meio a este "Zeitgeist" (espírito do tempo) que quero explorar uma possível mudança de rumo "imaginando" uma repetição/inversão de eventos ocorridos em um período que começou no terceiro trimestre de 2017 e se estendeu até o fim de 2018, com destaque para os seguintes eventos:

1. Boom dos cripto ativos no fim de 2017.

2. "Volmageddon" de fevereiro de 2018 (quebra de um fundo do Credit Suisse vendido em VOL)

3. Início da guerra comercial/tecnológica/monetária entre EUA e China a partir de março/2018

4. Tentativa de redução dos ativos do FED e eventual "Pivotagem" de Powell no fim de 2018


De forma bem resumida, a história acima se deu da seguinte forma:

O ano de 2017 -- primeiro ano do Trump 1 -- foi marcado pela expectativa de redução de impostos corporativos. A volatilidade associada ao preço das ações do S&P 500 (VIX) despencou. Com isso, as ações das Big Tech se valorizaram e os cripto ativos subiram de forma exponencial. A festa durou até o início de fevereiro de 2018, quando a VOL disparou e provocou um choque denominado de "Volmageddon".
Um mês depois, Trump surpreendeu o mundo impondo tarifas e restrições a empresas chinesas, em um ataque direto a empresas como Huawei e ZTE. Já Powell buscava aproveitar o período para reduzir os ativos do FED que -- ao longo dos anos subsequentes à grande crise financeira de 2008 -- havia se expandido de 800 bi para 4,5 trilhões de dólares. Em paralelo, o FED foi subindo a taxa do fed funds. Tal movimento culminou na derrocada vista no mercado acionário americano no fim de 2018 que fez com que o S&P 500 caísse de 2.800 para 2.350 pontos em poucas semanas. Algo que foi revertido com o famoso "pivot de Powell" ocorrido nos primeiros dias de 2019".


PLOT TWIST

Ainda que os valores nominais de hoje sejam bem diferentes daqueles praticados em 2018 (Bitcoin atingiu 25k em 2018, hoje está em 100k; S&P 500 atingiu 2.800 em 2018, hoje está em 6.000 pontos), em termos de percepção de mercado, há muita semelhança entre o que se percebe hoje e o que se percebia no fim de 2017.

O consenso de hoje aponta para uma intensificação na tensão comercial entre EUA e China, assim como para um FED que tende a ficar cada vez mais incomodado com as crescentes pressões inflacionárias nos EUA.

Assim, te pergunto: será que estamos destinados a repetir a trajetória de 2018 -- uma onde o período de festa é sucedido de um VOLMAGEDDON grande suficiente para alterar o rumo da política monetária do FED?

Preocupados com isso, os agentes não param de comprar contratos de opções de venda (PUTs). A bolsa de Chicago publica o índice CBOE Skew Index que mede quão caro um contrato de PUT está em relação a um contrato de CALL. Apesar da mídia financeira dizer que o VIX representa uma medida de "medo" presente nos mercados, penso que o Skew Index é uma medida mais apropriada para medir tal sentimento. E tal Skew registra neste momento o mais alto patamar nesta década -- 168! Em suma, tem muita gente assustada e, por esta razão, buscando proteção através dos contratos de opções de venda (PUTs).

E é justamente por isso que acredito que o desfecho desta trama tem tudo para ser diferente do ocorrido em 2018. Os mercados são movidos pelo elemento surpresa. Se muitos esperam por algo, a probabilidade de ocorrência deste algo diminui. Poderia aqui falar dos conceitos de reflexividade de George Soros e da famosa frase atribuída a Mark Twain de que a história não se repete, mas rima.

Por tudo isso creio que a grande surpresa para 2025 virá de um Trump que entenderá que -- a única forma preservar a criação de riqueza conquistada nos últimos anos nos EUA -- será via um grande acordo no qual ele trará a China para perto dos EUA e forçará uma re-precificação da moeda chinesa -- resultando assim na desvalorização do dólar.

Ao invés de um VOLMAGEDDON 2025, podemos estar a caminho de um BOOM em ativos chineses, desta vez "turbinado" pela retomada da confiança do consumidor chinês nos moldes do que foi visto no Brasil e no México na época do super ciclo das commodities (2003 a 2008).

Tal evento contribuiria para uma retomada no otimismo europeu, assim como uma melhora nos termos de troca no Brasil e no resto da América Latina. Mais importante, porém (pelo menos para os americanos), as empresas do índice S&P 500 se beneficiariam do fato de que aproximadamente 40% de suas receitas são oriundas do consumo em outros países. Um dólar mais fraco tende a ser positivo para a bolsa americana.

Está certo que Powell e sua equipe terão trabalho em um cenário como o descrito acima. Em se tratando de economia, o cobertor é sempre curto.

Marink Martins

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