Petrobras e Vale em direção oposta? Ouça as falas de Mnuchin!
No fatídico dia 18 de maio de 2017, dia em que Joesley Batista provocou um "Cisne Negro" nos ativos brasileiros, um dos eventos mais surpreendentes, além da expressiva queda do principal índice de ações brasileiro, foi a rápida e expressiva reação do preço das ações da Vale.
A primeira hora do pregão da BM&F na qual se negocia contratos futuros do Ibovespa, do dólar e do DI, entre outros, não só nos dá o tom do mercado, mas contribui também para uma maior correlação entre os ativos. Quanto maior for o movimento em uma determinada direção, maior será a correlação entre os preços das ações no momento de abertura da Bovespa as 10:00 da manhã.
Naquele dia não foi diferente. Com o Ibovespa futuro sinalizando um "circuit-breaker", revivemos um antigo mantra dos mercados: aquele que diz que, em momentos de desespero, todas as correlações tendem a 1! E foi bem assim! Na abertura, tudo parecia derreter.
Mas a trajetória do preço das ações da Vale foi bem diferente. Lembro-me bem que a VALE5 registrou seu primeiro negócio próximo a R$22,50, registrando uma queda de aproximadamente 12%. Entretanto, em um curto espaço de tempo, seu preço se recuperou rapidamente de forma surpreendente, zerando toda sua queda mesmo em um mercado que continuava a sangrar. Mas o que teria acontecido, para tamanha exuberância?
É sempre complicado apontar um catalizador em sistemas complexos como o mercado de ações. Pobre dos jornalistas que muitas vezes são forçados a encaixar uma narrativa que justifique os movimentos aleatórios dos mercados. De qualquer forma, podemos afirmar, com um bom grau de confiança, que o forte fluxo direcionado as ações da Vale naquela abertura tiveram como motivo, a forte valorização do dólar frente à moeda brasileira. O preço das ações da Vale tende a se beneficiar de um real mais fraco, uma vez que grande parte da receita da empresa é dolarizada. Por isso, o mercado passou a interpretar que aquele ativo era um bom "hedge" para as adversidades vividas naquele momento.
As ações da Petrobras, por um outro lado, caminhavam em direção oposta. Apesar de suas reservas petrolíferas também serem denominadas em dólares, o elevado endividamento em moeda estrangeira da empresa, naquele momento, contribuía para uma percepção de mercado de que a conjuntura econômica poderia ser desfavorável para a "blue chip" brasileira. Por isso, o mercado foi bem mais severo e penalizou as ações da Petrobras e de muitas outras empresas ditas arriscadas.
Dou toda esta volta não só para ilustrar o caráter ilusório das correlações, mas também para sinalizar que um evento global ocorrido esta semana aponta para uma nova tendência.
Nesta semana o Secretário do Tesouro norte-americano Steven Mnuchin reverteu um antigo mantra estabelecido nos anos 90 por Lloyd Bentsen e reiterado por Robert Rubin de que uma política de dólar forte era condizente com o bem-estar do cidadão americano. Mnuchin, por sua vez, disse que os americanos necessitam de um dólar mais fraco; algo que não só surpreendeu os mercados, mas colocou mais lenha na euforia que vem impulsionando os mercados em desenvolvimento.
Não é à toa que, nos últimos dias, nota-se um maior fluxo direcionado as ações mais alavancadas como as da Petrobras, justamente em contraposição ao fluxo direcionado às ações da Vale.
Para finalizar, convido o investidor a se sintonizar cada vez mais nos movimentos econômicos globais. Estamos em uma semana intensa com o julgamento do Lula e suas respectivas consequências. Tudo isso contribui para que o investidor brasileiro fique um pouco mais recluso, focado no noticiário local. Entretanto, entramos em uma fase "parabólica" dos mercados; uma onde há uma maior aceleração nos preços das ações. Isso traz mais euforia e mais volatilidade. Fiquem ligados, pois em um mercado cada vez mais automatizado e dominado por ETFs, poderemos viver algo inusitado.
Neste jogo de dados que é o mercado de ações, poderemos ter a ocorrência de uma face que nunca deu sinal de sua graça. O mercado de ações é assim, um dado multifacetado onde ora ou outra uma aparece sem que ninguém a reconheça.
Um bom fim de semana a todos,
Marink Martins