Otimismo seletivo

Após meses indicando cautela e um maior conservadorismo em meus comentários diários, creio que a recente queda no IBOV nos trouxe a um patamar convidativo que abre espaço para o famoso "stock picking" (seleção de ações). Tal seleção deverá ser feita de forma cuidadosa e estratégica, pois, como já mencionado por aqui na semana passada, temos um BC "independente" que me parece seguir o mandamento de Mario Draghi às avessas; isto é, o BC vai fazer o que for necessário para ancorar as expectativas de inflação.

A indisciplina fiscal é certamente preocupante, mas considerando um horizonte de tempo de 3 meses, creio que o mercado já se antecipou e dimensionou o tamanho do rombo. Sendo assim, uma carteira de ações deverá ser focada em ativos que, historicamente, se mostraram resilientes em um cenário de juros mais elevados. Aqui é importante a escolha de ações de empresas com ampla capacidade de repasses de preços. Não é à toa que empresas associadas ao varejo digital estão sendo penalizadas; estas empresas tendem a estar entre as mais prejudicadas. Passei o ano todo classificando-as como aberrações e, finalmente, os agentes começam a enxergar quão ridículas eram as narrativas transformacionais que permitiam ações do varejo brasileiro negociando com P/L maiores de 100x!

Já a Petrobras encontra-se em um outro extremo. Sua commodity está em clara tendência de alta e há sinais de que a solução para a alta dos combustíveis não resultará em intervenções maliciosas na empresa. Isso abre um importante espaço para que as ações da empresa passem a liderar um eventual movimento de recuperação no IBOV.

Mas, não é só de Petrobras que vive a bolsa. Existem diversos outros ativos que poderão compor uma carteira neste cenário de juros mais elevados. Ao escolher tais ativos foque naquela empresa que fornece o que consumidor precisa, não necessariamente o que ele deseja. 

Finalizo com uma referência ao mercado de ações americano. Por lá, os principais temas são: fluxo e sazonalidade. 

O fluxo para a renda variável já registra um recorde superior a um trilhão de dólares, e o consenso espera por uma continuidade nas próximas semanas. Além disso, estamos entrando em um período que é, historicamente, aquele associado com a melhor performance no mundo da renda variável. Será que teremos um rally de natal? A verdade é que, entre hoje e o natal, há muita coisa para acontecer. Por isso, vamos vivendo o dia a dia, seguindo os conceitos implícitos na famosa expressão: "bolsa tem todos os dias!!!"

Marink Martins