Os 3 Ls de Munger
Charlie Munger -- ex-sócio de Warren Buffet -- uma vez disse que há três maneiras pelas quais uma pessoa inteligente poderá ir à bancarrota. Em inglês, tais maneiras começam com a letra L: "ladies, liquor, and leverage" (mulheres, álcool, e alavancagem financeira).
Explorando tal tema, o sempre sóbrio Warren Buffet complementou dizendo o seguinte:
"Penso que é uma loucura tomar dinheiro emprestado para comprar ações! Considero insano arriscar o que você tem e necessita por algo que você não precisa. Saiba que você não ficará muito mais feliz se dobrar o seu patrimônio."
Buffet foi além e disse que Munger só incluiu "ladies" e "liquor" porque começavam com a letra L. Na opinião dele, o problema mesmo está com o L de "leverage" (alavancagem financeira).
Por mais sério que o tema seja, esta abordagem dos 3 Ls mencionada provavelmente não é uma novidade para você e pode até soar um tanto engraçada. A verdade é que, por trás do grande L ("leverage") há um "gigante" D de DESESPERO associado a uma não aceitação da realidade.
Muitos não se dão conta que tiveram suas mentes programadas para crescimento contínuo, linearidade e reversão à média. O problema é que a vida dá saltos. Assimilar reversões e distorções pode ser algo difícil demais para alguns. A história dos mercados nos mostram isso, não só do ponto de vista do indivíduo, mas também de instituições.
Histórias de "traders" que já quebraram alavancando através de contratos futuros, de operações a termo e de opções não faltam. Basta um deslize e um "minuto nova iorquino" para inúmeras noites de insônia e diversos outros problemas que surgem afetando a saúde e as relações familiares.
Em meio a isso tudo, busco aqui te chamar atenção ao fato de que os agentes não estão nem aí para o que Buffet diz! Afinal, o uso da alavancagem está por todos os lugares. Muitas vezes de forma silenciosa.
Enquanto uma operação a termo escancara a alavancagem, evidenciando o custo do dinheiro e o prazo da empreitada, outras formas de alavancagem são bem mais ocultas. Poucos sabem que, ao comprar 5 mini contratos futuros de Ibovespa, estão tomando emprestado 130.000 reais. No caso destes contratos, a boa notícia é que o custo da dívida é relativamente baixo, algo próximo ao CDI.
Já no mercado de opções a história é outra. É justamente ali onde a alavancagem é oculta. Afinal, poucos sabem que ao comprar 1.000 opções de compra de ações da Petrobras ("at-the-money") estão, de forma opaca, tomando emprestado dinheiro a uma taxa que muitas vezes supera 4%/mês. Está certo que as opções de compra, assim como um sinal na compra de um apartamento, trazem consigo uma assimetria convidativa em que há muito para ganhar, com perda máxima limitada ao prêmio pago. Mesmo assim, poucos fazem esta conta.
Vale dizer que o pecado capital da alavancagem não está restrito às pessoas físicas. O Banco Garantia quebrou em 1997 vendendo um volume exagerado de PUTs de C-Bonds. Já o LTCM fez um long/short insano. O Softbank foi com tudo na bolha do Nasdaq e perdeu quase tudo. Em 2008, a mesa do Unibanco não aceitava o ceticismo do mercado em relação aos seus papéis, até que o caixa acabou. Em 2011, tivemos a turma do GWI. E na pandemia certamente tivemos outras dezenas de histórias envolvendo o uso insano da alavancagem.
Por fim, tudo isso pode ser resumido na já conhecida fala:
Primeiro vem a ganância. Em seguida, o medo. No fim, chega aquele "tapinha" nas costas da zeragem compulsória associada a uma chamada de margem descomunal.
No entanto, antes de tudo isso, reside de forma silenciosa o grande D do desespero.
Marink Martins