O morteiro falhou. E agora?
Se você já esteve ao lado de alguém soltando morteiros, sabe que uma vez aceso, você não volta lá para entender porque o danado não explodiu. São inúmeros os casos de afoitos que voltaram para ver o ocorrido e que, no processo, sofreram consequências desagradáveis. Em se tratando do nosso tema principal por aqui -- o mercado de ações global -- penso que o "morteiro" que poderia nos entreter com sua explosão seria a retomada do impulso creditício chinês. Só que, embora anunciado, ainda não vimos uma "estrelinha" sequer nos céus da Faria Lima.
Insistindo um pouco mais na analogia, é possível que as condições atuais de clima não sejam tão favoráveis como as detectadas em circunstâncias anteriores. Uma outra possibilidade talvez tenha a ver com a quantidade e qualidade dos explosivos. Há até quem diga que falta fé por parte da turma ao redor do "foguete".
A mensagem que busco transmitir neste penúltimo Comentário de Mercado do ano é que há algo de estranho que exige cuidado e paciência. A retomada no impulso creditício chinês, por menor que seja, é algo que, em tese, deve contribuir para uma maior convergência entre os índices globais e os principais índices de renda variável dos EUA. No entanto, não é isso que está ocorrendo. Conforme mencionei ontem, testemunhamos um dos maiores "dribles" natalinos de todos os tempos.
Se você está se martirizando por ter perdido o rally de alta no índice S&P 500, saiba que não estás sozinho. O AIEQ -- aquele ETF que faz uso da inteligência artificial da IBM (Watson) -- também foi terrivelmente driblado pelos principais índices globais, conforme podemos ver no gráfico abaixo:
Enquanto isso, te chamo atenção a respeito da correlação entre o IBOV e o índice Hang Seng (Hong Kong) que se acentuou desde o início do choque regulatório chinês. Não devemos nos surpreender que o tal choque tenha provocado uma aversão a mercados emergentes, com consequências nefastas à bolsa brasileira. Tudo isso, naturalmente, sem desmerecer os nossos problemas políticos e fiscais que não são pouca coisa.
Mas, e aí? O que fazer? Confesso que não sei se é cedo demais para decretar que o morteiro chinês falhou. Talvez seja necessário uma maior paciência. Só sei que a minha sabedoria suburbana me diz que, em momentos assim, em se tratando de morteiros, o melhor é se distanciar um pouco.