O Brasil ditando a tendência, para pior)
Em 1998, um período marcado por euforia com ações de tecnologia dos EUA, as ações americanas eram mais sensíveis ao que ocorria ao redor do mundo.
Para citar um exemplo, os problemas com a Coréia do Sul (crise asiática) demandaram muita atenção do trio (Larry Summers, Alan Greenspan e Robert Rubin). Em um determinado momento, o índice S&P 500 chegou a recuar 20% entre máxima e mínima ao longo de 1998. Os problemas globais afetaram o fundo LTCM e trouxeram nervosismo ao mercado. O FED reagiu em meio as tensões cortando a taxa. Havia também uma preocupação do FED com a virada do milênio (Y2K) e com possíveis impactos na liquidez dos mercados.
Hoje, 23 anos depois, vivemos uma situação em que a China - grande produtora global - desacelera. Além disso, temos a Europa vivendo uma enorme crise energética! O Brasil - embora tenha uma importância menor no mundo - vive uma importante crise que assusta do ponto de vista da volta da inflação. Apesar de todas as preocupações globais, as ações americanas seguem registrando máxima atrás de máxima. Isso ocorre em meio a grande especulação com opções. Isso ocorre em meio ao fenômeno dos "meme stocks".
Curiosamente, ao contrário daquela época em que o FED tinha espaço para cortar taxas, desta vez a taxa básica já está no chão. Muitos apontarão para a injeção de liquidez promovida pelo FED, mas, especialistas como o Dr. Lacy Hunt, nos diz que este dinheiro está empossado no sistema, não chegando as empresas e consumidores. A velocidade de circulação da moeda despencou e o endividamento do governo americano já não contribui para o crescimento econômico como no passado.
Em suma, concluo que a grande diferença entre 1998 e 2021 diz respeito a uma premissa falaciosa: uma que diz que o FED irá resgatar o mercado de qualquer evento adverso. Esta premissa combinada com um maior número de entrantes no mercado em 2021 culmina em uma situação potencialmente destrutiva.
Finalizo dizendo algo que pode parecer hiperbólico, mas que vejo sentido: o Brasil está mostrando ao mundo como as coisas podem dar errado.
Embora o fluxo de recursos para as ações brasileiras tenha sido uma pequena fração do registrado nos EUA, vivemos por aqui um movimento que trouxe semelhanças. Afinal, tivemos o nosso "boom" de entrantes na B3. Tivemos o nosso "boom" de IPOs. Tivemos o nosso "boom" de "meme stocks". E olha no que tudo isso resultou? Bastou a "beautiful SELIC" voltar com força e toda a euforia se foi.
Está certo que a chance de uma elevação mais expressiva na taxa básica americana no curto prazo é mínima. Mesmo assim, como os excessos são gritantes por lá e há um abuso no uso de derivativos, basta um evento mais marcante como uma crise energética na Europa para que o apetite do investidor seja afetado negativamente. E se isso ocorrer, podemos estar diante de um momento de correção -- um "Minsky Momment"!
Nassim Taleb nos fala sobre a parábola do peru do dia de ação de graças. Agora, substitua o peru -- que cresce com a crença de que o açougueiro é seu amigo -- por um confiante investidor que vem fazendo fortuna vendendo PUTs e participando do famoso "buy the dips" (caiu comprou).
O Brasil está liderando o mundo no que está por vir. O mundo desenvolvido está
em um processo de latinização, e o Brasil dita a tendência de um processo
destrutivo capitaneado por governos populistas.
Marink Martins