O aviso de Zoltan Poznar

21/02/2022

Zoltan é hoje uma das pessoas mais influentes de Wall Street. Com passagem pelo FED de NY, o estrategista que atua na área de renda fixa de curto prazo pelo Credit Suisse vem se destacando na mídia financeira global desde a crise com operações compromissadas ("Repo") ocorrida em outubro de 2019. Na última semana, seu mais recente artigo deu o que falar.

Em seu mais recente artigo, Zoltan argumenta que o FED deverá permitir uma maior volatilidade no mercado e uma eventual queda nos preços dos ativos -- veja o comentário abaixo:

In case you missed some of Zoltan's wise words from earlier today:

"To improve labor supply, the Fed might try to put volatility in its service to engineer a correction in house prices and risk assets equities, credit, and Bitcoin too& Maybe the Fed should hike 50 bps in March, put an end to press conferences, and sell $50 billion of 10 -year notes the next day& Maybe FOMC members talk too much. They don t keep the market guessing. They suppress volatility&" Full note here.

Traduzindo: Zoltan argumenta que o FED deveria engendrar uma correção no preço dos ativos (ações, imóveis, renda fixa, bitcoin). Diz ele também que o FED deveria elevar a taxa do FED FUNDS em 50bp em março e encerrar a conferência realizada com jornalistas e analistas logo após as reuniões do FOMC. Em outras palavras, ele argumenta que os esforços do FED são na direção de suprimir a volatilidade; algo que vem deixando os agentes de mercado complacentes.

O fato é que, não só o Zoltan, mas muitos outros estrategistas começam a especular que a forma mais prudente para o FED e o governo Biden atacarem a elevada inflação, sem provocar uma recessão, seja através do efeito riqueza.

É importante aqui que o leitor entenda que estas argumentações trazem consigo uma compreensão da fragilidade política vivida pelo governo Biden neste momento. O índice de aprovação do governo está baixo, e os democratas já não contam mais com o número de senadores necessário para aprovar medidas de estímulos fiscais. Joe Manchin, de West Virginia, e Kyrsten Sinema, de Arizona, já não embarcam mais em projetos expansionistas de Biden (o tal "Build Back Better"). Além disso, o senador democrata do Novo México está hospitalizado, sem data para retorno às suas atividades como legislador.

Sendo assim, os republicanos fazem jogo duríssimo com os democratas. Estão todos de olho nas eleições do "midterm" no fim do ano. Até o momento, os republicanos nem sequer aprovaram a indicação de Jerome Powell como chairman do FED.

Por tudo isso, é bem provável que as argumentações feitas por Zoltan Poszar estejam ganhando tração entre os democratas. E se isso for confirmado, é possível que estejamos diante de um período que poderá resultar em consequências inversas àquelas obtidas durante o longo período de afrouxamento monetário ("quatitative easing"). Se os "QEs" se provaram extremamente benéficos ao efeito riqueza (valorização de diversas classes de ativos), a nova postura do FED + "Treasury" poderá ser uma mais sensível à crescente desigualdade econômica que aflige o país. Neste caso, será que poderemos ter um anti-QE?

Marink Martins

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