"No Wysi-Wyg" nos mercados!

11/04/2022

Aquele que atua no mundo da computação provavelmente conhece a expressão em inglês "What you see is What you get" (WYSIWYG), muito utilizada por programadores para denotar que o que "você vê é o que você obtém". Um ideal naquele mundo, que, "felizmente", não ocorre com muita frequência nem na vida real nem nos mercados.

Assim como na vida, os mercados vivem do que ocorre nas entrelinhas, na opacidade. Exploro este tema para te chamar atenção sobre a possibilidade de que a recente alta vista no IBOV -- aquela que ocorreu do dia 15/3 até o dia 5/4 -- tenha mais a ver com o fato de que o Brasil ganhou espaço na carteira MSCI para mercados emergentes em função da saída da Rússia. Houve um salto de 1,3% em seu peso na carteira que passou a ser de 5,93%. Algo que, com base em cálculos antigos, corresponderia a um fluxo próximo a 5 bilhões de dólares.

Refiro-me a estes cálculos, pois em 2019 fiz um trabalho de análise em que recomendei que investidores alocassem uma maior participação em ações chinesas através do ETF KBA em virtude de um aumento na participação destas ações na carteira de mercados emergentes da MSCI.

Ainda que estas mudanças na composição da MSCI EM estivessem vivas em minha mente, confesso que demorei a assimilar a alta vista por aqui na segunda metade de março. Está certo que existiram outros fatores que influenciaram o movimento como a recuperação vista no índice S&P 500 e as perspectivas de um impulso fiscal populista do governo Bolsonaro. Dito isso, penso que esta mudança na carteira MSCI tem uma maior relevância por ser um evento mais objetivo e por, historicamente, provocar fortes movimentos de alta ou de baixa nas ações que compõem o índice de mercado emergente associado ao país em questão.

Finalizo te chamando atenção ao fato de que os estrategistas globais não param de enfatizar a importância associada ao seguinte questionamento: será que os europeus irão pagar pelo gás russo em rublos? Teremos uma resposta em breve. Há quem diga que o próprio questionamento já é uma evidência de um mundo em transformação. No passado, os agentes de mercado demoraram para assimilar a importância da dois eventos marcantes: a chegada da China no WTO (2001) e o lançamento do Iphone em 2008. O que eles viram inicialmente foi completamente diferente das consequências causadas por estas duas grandes transformações.

Marink Martins


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