Nem todo prejuízo resulta em aprendizado!
No início de minha carreira de "trader" sofri algumas perdas marcantes. Lembro-me de situações em que meu irmão, buscando me animar, dizia que tais perdas faziam parte de um aprendizado que no futuro se provaria extremamente valioso. Suas palavras eram encorajadoras, pois em algumas situações, confesso que as perdas eram superiores a um ano de estudo em Harvard.
Hoje, com muitos cabelos brancos e já tendo passado por momentos extremos no mercado de ações, afirmo que nem toda perda resulta em aprendizado. Muitas estão associadas a estupidez, a compulsões e, mais importante, ao sentimento hoje conhecido como "FOMO" ("fear of missing out", ou o medo de perder uma oportunidade). Este sentimento de FOMO é muito comum e é mais marcante quando estamos em uma mesa de operações, na presença de outros traders. FOMO é muito mais abrangente. Muitas vezes se manifesta em associação ao velho sentimento de que "a grama do vizinho é sempre mais verde".
Não sei se o isolamento é algo mais produtivo para um trader. Tenho dúvidas quanto a isso. Mas, posso afirmar, com uma boa convicção, de que atuar sozinho em uma sala, traz PAZ! Afinal, Sartre já dizia: "o inferno é o outro!"
Este tema que busco explorar por aqui é algo que sempre cultivei, mas que sempre tive dificuldades em abordar. Ninguém gosta de discutir prejuízos. Falar de vitórias é sempre mais agradável. Dito isso, compartilho abaixo a fala de um dos traders de maior sucesso na história. Refiro-me a Stanley Druckenmiller que atuou junto a George Soros por muitos anos. Veja o que ele diz a respeito de uma "barbeiragem" que fez em 1999:
When asked about his experience, Druckenmiller said "I bought $6 billion worth of tech stocks, and in six weeks I had lost $3 billion in that one play. You asked me what I learned. I didn't learn anything. I already knew that I wasn't supposed to do that. I was just an emotional basketcase and I couldn't help myself. So maybe I learned not to do it again, but I already knew that.
De forma resumida, ele nos diz que não aprendeu nada ao perder 50% de um investimento. Ele cometeu um erro de forma recorrente, por razões de cunho psicológico.
Curiosamente, sempre pensei que com um patrimônio mais robusto, eu reduziria o meu nível de risco no mercado. Infelizmente, essa se provou uma premissa equivocada. Eu não sabia que, com mais dinheiro, me tornaria mais convicto, mais arrogante, mais teimoso. Na verdade, mais dinheiro me permitiu cometer mais desaforos. E olha que não era nem tanto dinheiro assim. Não quero passar aqui uma ideia de que eu tinha dezenas de milhões e quebrei.
Na bolsa é fácil criticar aquele que erra. O que é importante neste texto é que o leitor entenda que existem ideias a priori que não se materializam a posteriori!!! E isso ocorre porque o "eu de hoje" é bem diferente do "eu de amanhã". Tudo isso pode parecer obvio e um tremendo blá-blá de aula de filosofia de ensino médio. Mas é justamente quando esquecemos o óbvio que entregamos tudo de mão beijada para as nossas contrapartes...
Para não transformar esse texto em uma argumentação longa... finalizo afirmando que o leitor deve buscar sempre uma melhor compreensão psicanalítica a respeito da forma como atua. Existem situações que ocorrem na bolsa que devem ser tratadas no divã!
Para terminar este tema de forma mais lúdica, compartilho novamente o texto que escrevi sobre uma experiência no mundo de Jacques Lacan (https://www.myvol.com.br/l/tres-traders-no-diva/).
Marink Martins