Medindo o impulso creditício chinês
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Nos últimos dois dias explorei a possibilidade de uma "pivotagem" na política chinesa em relação a epidemia da covid. A possibilidade de que o Partido Comunista Chinês venha a abrir sua economia novamente, permitindo a entrada e saída de turistas, é algo que é aguardado com bastante ansiedade por muitos e que deverá trazer repercussões em diversas frentes.
O "timing" para tal evento é bastante incerto. Louis Gave, fundador da Gavekal, se mostrou otimista, mas apontou o segundo semestre do ano como o período mais provável.
No curto prazo, entretanto, o principal evento catalisador para uma alta mais consistente em ativos chineses ainda é o impulso creditício. E, neste sentido, há uma certa frustração por parte dos agentes que buscam se antecipar a tal movimento. O impulso creditício, como podemos ver no gráfico abaixo, embora positivo, caminha em um ritmo mais lento do que em "viradas" de ciclos anteriores (2017, início de 2019, 2020).
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Tal frustração não chega a ser uma surpresa. Venho enfatizando em comentários anteriores que o grande objetivo do PCC este ano é a estabilidade. Sendo assim, o impulso creditício chega em doses suficientes para estabilizar a economia, mas não em doses suficientes para alimentar um surto especulativo por parte da população chinesa.
Além disso, os chineses sabem que há um processo de "desglobalização" em curso e que, a qualquer momento, podem ser surpreendidos por restrições de exportações vindas dos EUA que, caso se materializem, podem se provar inflacionárias. Por tudo isso, para o PCC, parece que o melhor a ser feito é caminhar com cautela, visando chegar ao grande evento do ano -- a Convenção Nacional do PCC em outubro -- sem qualquer problema que possa vir a provocar instabilidade social.
Marink Martins