Mário Draghi às avessas

27/10/2021

É chegada a hora da verdade. Qual será a reação do nosso "banco central independente" diante da perda da âncora fiscal e do registro de um IPCA que, se anualizado, já supera os 10% ao ano?

As previsões variam entre um aumento de 1,25% e uma previsão de aumento de 3% feita pelo economista José Márcio Camargo. Lembro-me quando Armínio entrou para o BC e chocou o mercado elevando a taxa SELIC para 45%. Era uma outra época e o prazo médio dos títulos emitidos pelo tesouro brasileiro era bem curto.

O fato é que nas últimas semanas descolamos de forma significativa da trajetória das bolsas globais. Descolamos para pior, assim como ocorreu durante o período entre 2013 e 2015. A equipe do BC liderada por Roberto Campos Neto e Fábio Kanzuc já deixou claro que, assim como anunciará Mário Draghi em 2012, irá fazer o que for necessário ("Whatever it takes"). A diferença, entretanto, é que para salvar o EURO, Draghi iria comprar a quantidade de títulos que fosse necessária para evitar um calote dos países mais frágeis da Europa. Já aqui no Brasil, a dupla se compromete a elevar a taxa de juros nas alturas para ancorar as expectativas de inflação. Um problema quase que oposto ao enfrentado por Draghi. 

A minha visão, que, por boa parte deste ano, foi conservadora e cética quanto às perspectivas de valorização do IBOV, passou agora para uma de um maior otimismo seletivo. Reitero que há oportunidades associadas às ações de empresas que possuem capacidade de repasse de preços ("Price Makers"). Empresas associadas ao varejo ("Price Takers") e aquelas que captaram recursos para aquisições tendem a transitar por um longo período de sofrimento. Não é de hoje que o leitor me vê reclamando de aberrações na bolsa brasileira.

Mas, voltando à decisão do BC, penso que Roberto Campos Neto, que foi meu colega na turma de "trainees" do Banco Bozano Simonsen em 1996, irá surpreender enviando uma mensagem mais dura. Não vou fazer previsões com relação ao aumento da SELIC, mas creio que, em seu comunicado associado a balanço de riscos, o BC deixará claro que a perda de âncora fiscal vai exigir uma política monetária mais austera e mais prolongada.

Marink Martins

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