James Comey e Lauro Jardim
Ontem, Scott Wapner, âncora do programa "Half-Time Report" da CNBC, parecia inconformado diante do desdém do mercado ao testemunho do ex-diretor do FBI, James Comey, que acabara de acusar o atual presidente dos EUA de mentiroso. Enquanto comentaristas mais experientes exclamam que o mercado está complacente, os investidores preferem ignorar o ruído político e focar nas transformações tecnológicas que vem atuando como base para este longo ciclo de alta nas ações norte-americanas. Aqueles que duvidam desta tese, devem observar que, nas últimas semanas, o que vem de fato afetando o comportamento do mercado americano são notícias corporativas; aquelas que realmente contribuem para moldar as expectativas de analistas com relação a futura lucratividade de uma determinada empresa ou setor. O projeto de reforma tributária de Trump, embora importante, não chega nem perto de influenciar os mercados na mesma proporção que similares expectativas influenciam a bolsa brasileira.
Aqui no Brasil, embora também tenhamos empresas resilientes e beneficiadoras das mais recentes inovações tecnológicas, o ruído político ainda faz muito preço. Não fosse pelo sensacionalismo da reportagem do jornalista Lauro Jardim, talvez a bolsa não tivesse registrado tamanha queda no dia 18/5. Por um outro lado, o acontecido é um sintoma do elevado grau de vulnerabilidade da bolsa brasileira. Muitos acreditam que pelo fato do Ibovespa aparentar estagnado quando comparado ao índice S&P 500 em um gráfico de 10 anos, o indicador brasileiro estaria sub-avaliado. Tal premissa pode ser simplesmente um sintoma de nossa tendência inconsciente a acreditar que, com o tempo, tudo se reverte a sua média histórica. O fato é que, mesmo após oito anos de alta, a bolsa americana ainda negocia com uma relação entre seu preço e lucro projetado (P/L projetado) mais atraente do que a brasileira, uma vez que levamos em consideração as respectivas taxas de juros praticadas em cada país.
Marink Martins