Indício de rotação ou realização?

16/07/2024

Dentre indicadores que sinalizam uma eventual "virada" ou "rotação" nos mercados, gosto da medida de correlação de 30 dias entre os 5 principais setores do índice S&P 500: tecnologia, industrial, consumo discricionário, financeiro e saúde.

Conforme podemos observar no gráfico abaixo, tal correlação normalmente oscila entre 95% (ponto de alta correlação; algo que tende a ocorrer na baixa) e 60% (ponto de baixa correlação, algo que tende a ocorrer na alta). A média desta relação, desde 2018, é de 81% e o desvio padrão é de 9%.

Assim, vivemos um momento em que a correlação setorial dentro do principal índice de ações global é de somente 41% -- um nível baixíssimo que representa um desvio superior a 4 sigmas. E se você está achando o comportamento do mercado americano estranho, agora você tem aí uma imagem que comprova que o momento atual é definitivamente atípico.

Iniciado na semana passada após a divulgação do índice de inflação (CPI), testemunhou-se um forte movimento de rotação no qual as ações consideradas "small caps" se valorizaram bastante em relação às demais. Há quem diga que tal movimento foi fruto de um movimento de redução de posições vendidas no índice Russell 2000 -- referência para este tipo de ação na bolsa americana.

O fato é que estamos em pleno verão dos EUA, durante o mês de julho -- um período que não sabe o que é um retorno negativo desde o início da década passada. A volatilidade implícita embutida nos contratos de opções associados a índices de ações está baixíssima, mesmo que a VOL em ações específicas esteja mais elevada (o VIX está por volta de 12%, enquanto a VOL da Apple está por volta de 25%). Curiosamente, já entramos no período de divulgação de resultados corporativos. Mesmo assim, o nível de confiança do investidor parece ser algo inabalável neste momento.

Ontem, o primeiro pregão após o atentado a Trump, não mostrou uma alteração nesta dinâmica de negociação. A VOL permaneceu baixa. Fica sempre a dúvida sobre como se comportaria o mercado caso o desfecho do atentado fosse trágico.

Na Europa e na Ásia há sinais mais claros de exaustão. Enquanto as bolsas europeias são impactadas por um forte movimento de realização no preço das ações de empresas ligadas ao setor de consumo de artigos de luxo, na Ásia o temor parece estar associado à frustração com a falta de apetite do consumidor chinês. Entramos em um momento em que os investidores estão na torcida para que o Terceiro Pleno do Partido Comunista Chinês venha com alguma medida de suporte aos mercados.

Para finalizar, no Brasil o Ibov vai subindo diariamente em meio a um cenário de VOL inusitado. Nunca vi um VOL tão baixo associado ao BOVA11. Confesso que tenho dificuldades de achar uma explicação razoável que justifique tal comportamento.

Marink Martins

www.myvol.com.br