Falha no Teflon

03/04/2024

O mercado de ações norte-americano vem sendo descrito como um mercado TEFLON -- um não aderente a notícias negativas, sejam elas corporativas ou macroeconômicas. Há quem julgue irrelevante a atual discussão a respeito dos próximos passos do FED (número de cortes de 0,25% na taxa do "fed funds") baseado em uma crença de resiliência tanto na economia dos EUA assim como na lucratividade das empresas que compõem o índice S&P 500.

No entanto, o que foi observado ontem -- segundo dia útil em um segundo trimestre marcado por elevados pagamentos de tributos no país ("tax day" se aproxima) -- foi algo que aponta na direção contrária da premissa descrita acima.

Em particular, testemunhou-se dois choques corporativos. O primeiro veio da TESLA (-4,90%) que frustrou o mercado ao anunciar que o número de carros vendidos no trimestre foi bem inferior à expectativa. O segundo veio da empresa United Health (-6,44%) que sofreu em meio a um anúncio feito pela agência federal ligada ao setor de saúde (CMS) de que os reembolsos associados a programas "Medicare" e "Medicaid" serão bem inferiores a expectativa do mercado. Estas duas empresas são importantíssimas e carregam um peso expressivo nos índices de ações.

No entanto, o que foi realmente diferente no dia de ontem foi a ausência de uma rotação setorial e, mais importante, a ausência de uma "puxada" nos preços das ações no fim do pregão -- refiro-me ao já famoso movimento de "buying the dips". Pudera! O mercado de ações dos EUA subiu de uma forma impressionante do patamar registrado no dia 27 de outubro de 2023 até a semana passada, registrando um dos ciclos de valorização mais impressionante da história da bolsa de valores dos EUA. O que impressionou não foi só a magnitude (aprox. +27% no S&P 500), mas também a consistência e ausência de recuos ("pull backs") conforme podemos observar no gráfico do índice S&P 500 abaixo:

Observe que o comentário (em inglês) que acompanha a imagem acima nos chama atenção da importância do patamar de 5.200 pontos para o índice S&P 500 por duas razões: a primeira tem a ver com o fato deste patamar representar a média móvel de 21 dias. Já a segunda tem a ver com o patamar inferior do canal de alta, descrito como um "perfeito canal Madoff" que neste caso nada mais é do que uma associação aos retornos artificiais produzidos pelo já falecido Bernard Madoff.

O fato é que a pausa vista no "bull market" americano finalmente chegou. Os próximos dias nos reservam uma chuva de dados macroeconômicos associados a criação de empregos no país -- algo que deverá influenciar diretamente o custo do dinheiro ao redor do mundo.

Por fim, há uma esperança no ar de que a recente valorização das commodities (petróleo, ouro, cobre e outras) contribua para um movimento de recuperação no preço das ações de empresas de mercados emergentes. Ontem a performance do IBOV quando comparada ao que foi visto nos EUA e Europa foi encorajadora. Vamos ver se tal movimento ganha tração e se transforma em uma tendência.

Marink Martins

p.s. TESLA -- Alguns modelos da TESLA perderam um incentivo tributário que representava um desconto de 750 dólares no preço do veículo. É consenso de que se a empresa for tratada por investidores como uma produtora de automóveis (ao invés de uma empresa voltada a software) suas ações estão simplesmente caras demais. O resultado do primeiro trimestre da empresa será divulgado no dia 23/4 e poderá se configurar como um evento importante ao mercado.

www.myvol.com.br