Equívoco (parte 2)
No texto de ontem argumentei que analistas de renda variável vem cometendo o seguinte equívoco: classificar o "bull market" atual como um evento estritamente norte-americano, impulsionado por um pequeno grupo de ações denominado de as 7 Magníficas (Microsoft, Apple, Nvidia, Amazon, Google, Meta e Tesla).
Como alternativa apontei que o "bull market" possui como atributos uma preferência por parte de investidores por ações de empresas globais, detentoras de marcas conhecidas. O gráfico abaixo -- ilustrando índices globais (denominados em moedas locais) -- busca ilustrar justamente estes argumentos.
Observe que o Nikkei 225 do Japão é o índice de melhor performance neste começo de ano. Observe também que o índice EuroStoxx 50, com uma alta de 10% no ano, registra uma performance que é duas vezes melhor que aquela registrada pelo índice EuroStoxx 600. Este segundo argumento aponta na direção de que os investidores, de fato, buscam por um seleto grupo de empresas ao redor do mundo (não exclusivamente nos EUA).
O Brasil que -- para surpresa de muitos -- se destacou em 2023, começou o ano exibindo uma tremenda apatia. Ao invés do esperado fluxo de investidores globais recebemos desdém e muita interferência política por parte do atual governo. Eles finalmente conseguiram aumentar a presença do governo no Conselho da Eletrobras. Além disso, Lula quis deixar claro que a decisão de retenção de dividendos na Petrobras partiu de sua mesa.
Em meio a todo este ruído político, te pergunto:
Será que esta mudança no conselho da Eletrobras deverá ter um reflexo negativo na rentabilidade da empresa nos próximos dois anos?
Será que o fato de que as ações da Petrobras negociam com um P/L de 3,6x (lucros dos últimos 12 meses) e EV/EBITDA de 2,73x já não reflete que o mercado já antecipava que um movimento intervencionista estava a caminho?
Será que a previsão feita pelo BTG Pactual de que a lucratividade das empresas do IBOV deverá ficar por volta de 500 bilhões de reais em 2024 está ameaçada?
É curioso que o IBOV vem "dançando" conforme a música dada pela taxa dos contratos DI mais longos. O contrato DI1F33 (vencimento em janeiro/2033) sofreu forte deterioração na última semana -- piorou de 10,70% para 11,05%. Por um outro lado, o risco país -- medido pelo CDS de 5 anos do país -- permanece próximo ao menor patamar da história. Sabe-se que o contrato DI reflete uma preocupação em meio a luta contra a inflação, enquanto o risco-país já mede questões associadas à solvência. Mesmo assim, me chama atenção como os agentes locais se comportam de uma forma mais pessimista do que os investidores globais em relação ao Brasil.
Na semana passada, em uma conversa que tive com o analista para mercados emergentes da Gavekal -- Udith Sikand -- ele se disse perplexo com o pessimismo dos brasileiros em relação à situação fiscal do país. Disse ele: "ainda que o endividamento da Índia e do Brasil seja parecido (próximo a 80% do PIB), aqui no Brasil os investidores parecem estar obcecados pela questão fiscal".
Por fim, chama atenção o descolamento entre o S&P 500 e a taxa dos "treasuries" de 10 anos. O mercado de ações dos EUA parece ignorar a elevação no custo do dinheiro vista nos últimos dias. Eles só querem saber de "AI", de Nvidia, de SuperMicro...
Em suma, temos um mercado de obcecados! Uns pelo fiscal (brasileiros), outros pelas TECH (americanos), outros por crescimento econômico em uma nova fronteira (Índia). Em comum há o medo coletivo de um colapso econômico na China. Rivotril neles!!!
Marink Martins