Eleições de midterm norte-americanas
Neste domingo, após um ano de muitas atribulações, escolhemos a nossa representação para a Câmara dos Deputados e o Senado. O Brasil renovou o Congresso - a Câmara teve uma taxa de reeleição de apenas 50%, e o Senado, 30% - a mudança é a maior desde o pleito de 1998. A bancada eleita favorece o candidato Jair Bolsonaro, que, se manter sua tendência de crescimento, será confirmado no 2o turno com uma base governista muito favorável, com a maioria do Congresso disposto a votar reformas alinhadas a pauta de reformas do novo Executivo federal.
Também nos Estados Unidos, nos aproximamos das eleições midterm, que acontecerão no dia 6 de Novembro. O Congresso americano, ao contrário do nosso, renova suas cadeiras a cada dois anos: serão eleitos 435 deputados. Já o Senado possui 100 cadeiras, cada senador com um mandato de 6 anos; este ano serão escolhidos 33 senadores.
Com este mecanismo de renovação frequente, logo, se o mandato do presidente Trump possuir um desempenho aquém do esperado ou for reprovado por parte do eleitorado - o que é comum na democracia americana - tende a receber como resposta uma Câmara e um Senado mais Democratas. Desde 2016, a maioria do Congresso é republicana, o que não ocorria desde 2007. Vale ressaltar que, assim como no Brasil, o número de deputados por estado é proporcional à população. A California, por exemplo, possui 53 representantes, enquanto Vermont e Delaware possuem apenas um representante cada. No Senado, cada estado, independentemente do número de residentes, possui 2 representantes.
De acordo com o estatístico Nate Silver, criador do site FiveThirtyEight, os Democratas possuem 74,5% de chances de controlar a Câmara, como ilustra o mapa abaixo. A situação atual é de maioria republicana, com 235 representantes, versus 193 democratas, e 7 independentes. Os Democratas precisam conquistar mais 23 cadeiras na Câmara para conseguirem a maioria. No Senado, com 51 republicanos e 49 democratas, a oposição precisa de 2 cadeiras para conseguir o controle - os estados de North Dakota, Nevada e Montana são as disputas mais acirradas - a chance dos Republicanos continuarem com a maioria no Senado é de 78,6%.
Neste segundo semestre, quem está nos holofotes das votações para o midterm 2018 é Brett Kavanaugh - que indicado por Trump no dia 9 de julho - ontem assumiu a posição de juiz da SCOTUS (Suprema Corte Americana). A votação de confirmação de Kavanaugh passou por um período de longa discussão no Senado, onde, mesmo após uma forte oposição democrata, o indicado do presidente se logrou vitorioso. Isto pode trazer força eleitoral para os Republicanos - mas o stress gerado por acusações de assédio sexual feitas a Kavanaugh enquanto o Senado votou por sua confirmação pode gerar um efeito adverso entre o eleitorado feminino democrata e até mesmo o republicano, pois o público feminino que apoiou Trump em 2016 pode desembarcar da coalização republicana por se sentir mal representado nesta confirmação da Suprema Corte.
Os Republicanos estão sublinhando a seu favor fatores como o baixo desemprego divulgado pelo U.S. Department of Labor (3,7% em Setembro), o corte de impostos, e o índice S&P 500 batendo a alta histórica. Os Democratas buscam ampliar terreno nos subúrbios, e em onde conseguiram boas vitórias nos governos estaduais em 2017, como na Virginia e em New Jersey. Mesmo com o aparente protagonistmo da nominação de Kavanaugh, a eleição midterm se baseia no personagem controverso de Trump - definida a configuração da Câmara e do Senado, o presidente provavelmente precisará fazer concessões aos Democratas, indicando qual será o caminho para as prévias partidárias de 2020.