É possível acharmos pechinchas dentre os ativos mais líquidos?
Em meu texto enviado na última sexta-feira ("Reminiscências de uma outra época em que a Vale estava uma pechincha") chamei atenção a peculiaridade quanto ao "valuation" da mineradora brasileira. Em épocas em que há uma percepção de que o preço do minério de ferro está elevado, a Vale negocia a múltiplos descontados.
Hoje vou um pouco além e questiono se é possível um ativo, que esteja entre os mais líquidos do mercado, negociar com um desconto significativo frente a seu valor intrínseco.
Observe que tal questionamento é filosófico, pois a ideia de valor intrínseco me parece algo pertencente ao mundo das ideias de Platão.
O fato é que existem alguns analistas cujas ideias têm um impacto direto e imediato na precificação de ativos. Katy Huberty, do Morgan Stanley, é uma destas analistas cujos comentários contribuem para oscilações no preço das ações da Apple. Gene Munster, da Loup Ventures, e Tony Sacconaghi, da AllianceBernstein, são outros dois famosos que também fazem preço quando o assunto é tecnologia nos EUA. O que dizer de Aswath Damodaran, considerado por muitos como o pai desta técnica conhecida como "valuation"?
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Mas, em se tratando de ativos líquidos, devemos entender que existem milhares de agentes digerindo todas as informações com potencial de impacto na precificação de um ativo em questão. Se existe alguma eficiência no mercado, tal eficiência deve se manifestar justamente na precificação desses ativos líquidos.
Contudo, caso os mercados exibissem tal eficiência, o nível de volatilidade de um determinado ativo seria inversamente proporcional a sua liquidez. O problema é que este não é o caso.
As ações da Tesla e da Apple estão entre as mais líquidas do planeta. No fim de janeiro, o preço das ações da Apple bateu 145 dólares em meio a comentários feitos por Kate Huberty a respeito das perspectivas na área de 5G. Recentemente, tal preço bateu próximo de 120 dólares - uma queda superior a 15%! E olhe que não ocorreu nenhum evento impactante como este que observamos por aqui com as ações da Petrobras.
Curiosamente, Apple e Tesla contam com derivativos que são precificados embutindo uma volatilidade que, em muitos casos, é mais do que o dobro da volatilidade associada ao índice S&P 500.
E é justamente por isso que decidi resgatar este texto sobre a Vale. Analistas da Empiricus e do BTG vem, nos últimos dias, enfatizando o elevado grau de atratividade das ações da Vale, afirmando que o preço reflete um desconto significativo em relação ao valuation de empresas BHP e Rio Tinto. Ontem, o preço das ações da Vale disparou! Seria tal movimento um reflexo da busca pelo valor intrínseco ou uma consequência de uma comunicação em massa de grande eficiência?
Tal questionamento não é, de forma alguma, uma crítica. Os leitores sabem a respeito do meu envolvimento com casas de pesquisa, como a própria Empiricus Research. A motivação deste questionamento é genuína e, por isso, finalizo este texto reiterando-a: pode um ativo de alta liquidez negociar de forma descontada? É possível acharmos pechinchas dentre os ativos mais líquidos?
Marink Martins