Dessincronização ou manipulação?
O momento atual é um em que há uma aparente dessincronização entre os ciclos econômicos dos EUA e Europa em relação ao que está em curso ao redor do mundo. Observa-se uma forte elevação no rendimento dos títulos de 2 anos emitidos pelos governos de países como o Brasil, a Rússia, a Austrália, a Nova Zelândia, o Canadá, e outros. Por um outro lado, as taxas destes títulos praticadas nos EUA e na Europa permanecem lá em baixo. Será que há uma dessincronização dos ciclos econômicos? Será que vivemos o início de um ciclo em que EUA e Europa embarcam em um processo de YCC ("yield curve control" ou manipulação da curva de juros)?
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As perguntas acima certamente fazem parte de um importante debate. Há quem diga que uma trajetória de YCC nos EUA e Europa é inevitável e resultará em um eventual enfraquecimento de suas moedas. No entanto, esse é um processo que poderá levar meses ou, até mesmo, alguns anos.
O fato é que ao pensar a dinâmica dos índices de ações no curto prazo, observamos que a divergência entre o que ocorre no S&P 500 e no resto do mundo é cada vez mais gritante. Nos últimos 10 dias observamos nos EUA um comportamento análogo ao que foi visto em janeiro deste ano -- um período marcado por um recorde em termos de fluxo de recursos para a renda variável.
Veja que nos últimos dias os "meme stocks" voltaram a ocupar as manchetes. As ações da locadora de automóveis AVIS chegou a disparar 200% em um único dia! Em paralelo -- como podemos ver no gráfico abaixo -- a procura por "CALLs" (contratos de opções de compra) disparou e registrou um novo recorde histórico. Os EUA vivem o que alguns chamam de "CALL Mania"!!!
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Está certo que venho falando por aqui que a alta lá fora tem sido impulsionada por fluxo e por sazonalidade. Mesmo assim, "surfar" esta onda de divergência entre S&P 500 e Ibovespa não tem sido nada fácil para mim. Talvez eu esteja me preocupando demais com questões estruturais e deixando de lado o que o mercado chama de "market internals" (indicadores de curto prazo associados ao comportamento dos mercados).
Em momentos assim, o melhor a ser feito é promover um certo distanciamento do mercado. Reduza o tamanho das posições e passe a olhar de uma forma um pouco mais distante. A imagem abaixo ilustra bem o que busco transmitir.
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Marink Martins