Descontinuidades e Descasamentos
Em momentos de adversidade nos mercados, não bastasse o mau humor gerado pelas perdas financeiras, temos que conviver com os nossos amigos e familiares nos perguntando diariamente: E aí, melhorou?
Em algumas situações, este tipo de pergunta nos chega justamente em um momento em que acabamos de zerar uma posição, ou virar a mão de forma indevida. A culpa não é deles. Na maior parte dos casos, eles querem o nosso bem. Mas, mesmo assim, a situação é extremamente incômoda. Quando a indagação vai um pouco além, busco despistar alegando dois tipos de problemas que venho enfrentando: descontinuidade e descasamento.
A descontinuidade é a minha desculpa para perdas no mercado de opções. Muitas vezes é resultante de saltos surpreendentes no preço da Petrobras PN. Para aquele que opera vendido em VOL, um salto no preço é equivalente a SINISTRALIDADE vista no mundo segurador. Elas ocorrem com frequência. E é justamente por isso que as seguradoras possuem modelos sofisticados e reservas técnicas. Mesmo assim, eventos marcantes como o furacão Andrew -- aquele de devastou as Bahamas e a cidade de Miami em 1992 -- e o ataque as torres foram suficientes para deixar algumas seguradoras quebradas. A descontinuidade é cruel e, nos mercados, pode ser simbolizado por uma passagem da música ONE SLIP do Pink Floyd!
One slip and down the hole we fall
It seems to take no time at all
A momentary lapse of reason
That binds a life for a life
A small regret, you won't forget
There'll be no sleep in here tonight
Traduzindo de forma simples, direta e chula: "deu mole, a vida e o mercado CRÉU!!!"
Já o descasamento é a minha desculpa para perdas em operações long/short. Muitas vezes, assumimos que irmãos (pares) andarão juntos continuamente, guiados por uma força de reversão à média. Aqui, pense Bradesco Vs. Itáu, Cemig vs Copel, Microsoft vs. Apple, Coca vs Pepsi. Mas, se irmãos de sangue muitas vezes dispersam... o que dizer de empresas? Não é à toa que vivo uma relação de amor e ódio com operações long/short. Atualmente, busco evitá-las.
A verdade é que, seja qual for a sua estratégia, ela certamente carrega vulnerabilidades. É importante identificá-las. É importante desenvolver um senso de autocrítica e sempre chamar a responsabilidade para si.
Descontinuidades e descasamentos estarão sempre por ali, nas esquinas. Sem elas, não haveria prêmio de risco.
Perder é doloroso, mas acontece com todos. Quebrar é uma exclusividade daqueles que alavancam e que são iludidos pelo acaso.
Marink Martins