Depender do mercado de ações é fatal!

18/04/2025

Conviver com o mercado de ações é difícil. Agora, depender do mercado de ações é fatal.

Em se tratando do convívio com mercado de ações e derivativos, posso afirmar -- sem entrar em questões técnicas -- que há um "link" entre necessidade, dependência e desespero que faz com que investidores fiquem CEGOS para certas obviedades.

Abaixo, compartilho um gráfico que mostra que o investidor (qualquer um) que investiu em uma carteira do S&P 500 (pense no ETF SPY) obteve um retorno anual nos últimos 5 anos de 16,1%! E o mesmo gráfico nos diz que aquele que vem investindo em tal carteira, de 2014 até hoje, vem obtendo retornos anuais médios de 15%, com alguns anos superando 20%.

Os últimos 10 anos foram uma festa! Se a década iniciada em 1920 foi chamada de Os Esfuziantes anos 20 ("Roaring 20s"), esta última conquistou o apelido dos anos de Excepcionalismo Americano.

Acima, o retorno anual do S&P 500 em janelas de 5 anos. 

Agora, será que este nível de retorno anual é sustentável? A resposta é clara: provavelmente não.

Como parâmetro, deixa eu te apontar para o histórico daquele que, até hoje, não para de impressionar: o oráculo de Omaha, Warren Buffet, e seu veículo de investimentos, Berkshire Hathaway.

Buffet, o mais famoso entre os investidores, obteve ao longo de sua carreira -- que já dura mais de 60 anos -- um retorno anual de 19,9%. Sua melhor década foi a dos 80, período em que seu retorno anual foi de 39% (contra 17,5% do S&P 500). Nos anos 90, seu retorno anual foi de 20,3% versus 18,2% do S&P 500.

Eu poderia aqui dizer que a virada do milênio foi dolorosa ao famoso investidor. Afinal, seu retorno anual no período foi de somente 9,3%. No entanto, Buffet conseguiu isso em um período onde o S&P 500 registrou um retorno anual de -1,4%. Sim, o velhinho de Omaha se saiu como o grande vencedor na grande crise financeira de 2008. Naquela década ele simplesmente optou por ficar de fora da euforia vista no sistema bancário. Após o estouro da crise, acabou abocanhando ações da Goldman Sachs e do Bank of America a preços extremamente descontados 

Já na década subsequente (iniciada em 2010), Buffet ganhou 12,1%, perdendo para o retorno anual do S&P 500 de 13,6%. E, de 2020 a 2024, seu retorno anual subiu para 14,5%, que é um pouco melhor do que os 12,8% de ganho anual da carteira do S&P 500.

O meu ponto aqui é que os investidores da atualidade -- acostumados com retornos anuais estratosféricos -- "esquecem" de reconhecer, ou estão "CEGOS" para o FATO, de quão fora da curva foram os retornos dos últimos 10 anos.

Aqui no MyVOL, eu não canso de repetir: relações de Preço/Lucro sempre retornam a média. Pode demorar 1, 5, ou até mesmo, 10 anos, mas tal relação sempre volta.

Há um desespero que, aos poucos, começa a tomar conta de investidores concentrados em ações de tecnologia. E olhe que estes estão espalhados por todo o mundo e são, na maioria, jovens. 

Abaixo, um gráfico ilustrando o retorno do Nasdaq 100 em janelas de tempo de 50 dias. Se a história se repetir, o índice está sujeito a um tremendo repique. Mas e se desta vez for diferente?

Acima, o retorno do Nasdaq 100 em janelas de 50 pregões. Gráfico compartilhado por Jessica Rabe, da Datatrek Research. Ao lado, a imagem do Ben Affleck representando o "desespero" dos investidores. 

Warren Buffet, mais uma vez está de fora da euforia. Ao invés de embarcar na febre associada a inteligência artificial e data centers, o velhinho vem investindo em ativos japoneses (extremamente descontados do ponto de vista cambial) e "treasury bills". A sua empresa tem hoje a maior posição em T-Bills da história, superando em valor a posição detida pelo FED. 

O que será que está na mente do Oráculo de Omaha? Enfraquecimento do dólar e da bolsa são bons candidatos.

O fato é que -- nos últimos 10 anos --  o investidor médio ganhou de Buffet. E pior: ele (o investidor médio) -- assim como ocorrido no fim dos anos 90 e meio dos anos 2000 -- se acha melhor do que o velhinho de Omaha. 


Marink

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