Cresce o ceticismo em relação ao poder do consumidor americano
Nesta semana escrevi sobre transformações pós-pandêmicas. Neste texto enviado a você na terça-feira concluí com a seguinte passagem:
"De volta às ações da Big 7 dos EUA, o leitor já deve imaginar a minha desconfiança com relação a este cenário. Não vou me surpreender se, em breve, as ações da Apple se tornarem uma importante fonte de "carry trade" para o mercado; isto é, o mercado passar a "fazer caixa" vendendo ações da Apple para comprar outras ações descontadas ao redor do mundo."
De lá para cá testemunhamos uma forte deterioração no índice S&P 500. Tivemos a derrocada no preço das ações da Netflix na quarta-feira e diversos comentários conservadores por parte de membros do comitê de política monetária do FED.
Do ponto de vista técnico, o "crash" na Netflix contribuiu para que as ações da Meta (Facebook) voltassem a negociar abaixo de 200 dólares. A verdade é que as oscilações dos últimos dias deixaram muitos investidores "under water" (com posições perdedoras). As Big Techs estão mostrando fraqueza, apesar da estabilidade vista no preço das ações da Apple.
Ontem, Nick Colas, responsável pelo serviço de análise DATATREK, levantou dúvida quanto ao poder do consumidor americano. Boa parte do ceticismo advém de sua desconfiança ao ver que o consumo de gasolina neste ano está 3% mais baixo do que o registrado no ano anterior, conforme podemos observar no gráfico abaixo:
Este declínio na linha azul (2021-22) é algo que vem preocupando os otimistas do mercado. Além disso, vale reiterar aqui que a força da moeda americana é algo que tende a afetar negativamente as ações das Big Techs. As empresas de tecnologia são as mais expostas do ponto de vista cambial, com >60% das receitas oriundas do mercado consumidor internacional.
Mas não é só a desconfiança com o consumidor americano. Muitos investidores estão acordando para o fato de que o FED parece determinado a frear a economia. Veja o que Lou Crandal, o famoso FED WATCHER da Wrightson ICAP disse nesta manhã.
Traduzindo: a cada oportunidade, a comunicação dos membros do FED se prova cada vez mais agressiva na direção de um aperto monetário.
Voltamos ao ambiente de mercado que esteve presente na primeira metade de março. Os políticos e os otimistas até que tentaram emplacar uma narrativa mais construtivista. Não deu certo. Aperte os cintos, pois o ajuste está em curso e você não quer ser pego "dando bobeira" no mercado, operando de forma extremamente otimista.
Mas e o Brasil? Entenda que o Brasil é um trade. Entenda que o Brasil é sempre coadjuvante neste drama. Por isso, a ênfase nestes comentários está na economia global, com destaque aos EUA que é o país emissor da moeda que representa a reserva de valor global. O dólar, o custo do dinheiro em dólar, e o preço do petróleo ainda hoje são as principais variáveis no mundo econômico. O resto (e aqui incluo o Brasil) acaba sendo uma espécie de derivativo.
Marink Martins