Compreendendo a posição "gamma" dos "dealers" (Parte 2)

23/02/2022

No texto de ontem, falei sobre o Delta de um contrato de opção. Expliquei-o não só como a sensibilidade do preço da opção em relação a variações no preço da ação (interpretação matemática), mas também enfatizei que este deve ser interpretado como a probabilidade de que o contrato em questão terá valor econômico positivo no momento do possível exercício do contrato.

Também importante é compreender que o Delta oscila dinamicamente, afetado por forças como a direção do preço do ativo base, sua volatilidade e a passagem do tempo. A taxa de juros também exerce uma pequena influência. O ritmo de oscilação no Delta atende pelo nome de Gamma, que é o tema desta análise. Mais precisamente, busco falar da postura dos "dealers" norte-americanos que são formadores de mercado ("market makers") que fornecem liquidez a diversos participantes do mercado.

Neste sentido, em momentos de estresse no mercado, cresce a procura de investidores por contratos de opção de venda ("PUTs") associados ao principal índice de renda variável global -- o índice S&P 500. Consequentemente, os "dealers" não hesitam em fornecer liquidez e vender tais contratos aos interessados. Buscando evitar uma exposição direcional, eles travam sua exposição à venda de PUTs através de uma combinação de compra de CALLs (fora do dinheiro) em conjunto com uma posição vendida no ativo base (S&P 500). A imagem abaixo, obtida através de uma explicação fornecida pelo professor Sergei Perfiliev, é ilustrativa:

Para compreendermos o que busco transmitir, é importante assumirmos duas premissas: 1 - os "Dealers" são grandes players não-direcionais (isto é, não estão no mercado para acertar se o mercado irá subir ou cair) e, 2 -- os "Dealers" buscam atuar de forma "Delta neutral" (sem preferência direcional).

Para esta análise devemos também pensar os "Dealers" como um único grupo, atuando de forma consolidada. Assim, podemos afirmar que, dependendo da combinação de PUTs (posição "short" vendida ao mercado), CALLs e S&P 500 (a vista), a posição dos "dealers" poderá com um "gamma positivo" (que se beneficia de maior VOL) ou um "gamma negativo" (que se beneficia de um menor VOL).

Como sabemos a respeito da posição consolidada dos "Dealers"? Bem, vivemos na era da informação e há empresas monitorando tudo que acontece nos mercados. Assim, gráficos como este abaixo, provam-se interessante a todos que atuam no mercado.

O gráfico acima, publicado na segunda-feira pela empresa Tier1Alpha, nos mostra que a posição consolidada dos "Dealers" em contratos de opções associados ao S&P 500 está com um "gamma" negativo. Isto é, a posição se beneficia de um cenário de menor volatilidade.

No entanto, se os "dealers" estão "vendidos em VOL", isto quer dizer que sua contraparte (o resto do mercado) está "comprada em VOL".

Uma peculiaridade associada ao posicionamento de um participante no mercado de opções é o fato de que, quando "vendido em VOL", o participante deve vender com o mercado caindo e comprar com o mercado subindo; contribuindo assim para uma maior volatilidade no mercado. Quando este participante é um "dealer", a influência na volatilidade do mercado, como um todo, tende a ser bem maior devido ao tamanho que estes "dealers" representam no mercado.

Assim, concluo esta rápida análise, convidando o leitor a buscar entender esta dinâmica de posicionamento no mercado de opções. Aqui no Brasil, busco chamar os "dealers" pelo carinhoso apelido de "eixo do mal". Por aqui, esta mesma dinâmica se faz presente em contratos de opções associados ao IBOV, Petrobras, Vale, e outros ativos. Infelizmente, no caso das opções da Petrobras, não tenho acesso a um gráfico como este apresentado acima. No entanto, basta estar presente no mercado de opções para saber se o "eixo do mal" quer "ouvir a música" com um volume alto ou baixo.

Marink Martins

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