Complexo de vira lata global
Ontem, o FED não surpreendeu. Fez o que muitos vinham comentando há semanas. Aqui mesmo, venho chamando atenção para a possibilidade de que os EUA estejam transitando de um "desinflationary boom" para um "inflationary boom" -- uma expansão econômica com um nível de inflação mais elevado.
A beleza de ser o emissor da reserva de valor global (o dólar) é que, historicamente, quando a inflação sobe, a taxa de juros dos EUA também sobe. No entanto, ao contrário do que ocorre no resto do mundo, o valor relativo da moeda americana sobe.
Pense nesta "patologia". Quanto mais o americano consome (mais inflação levando a mais juros e dólar mais caro), mais ele contribui para o empobrecimento do resto do mundo.
O gestor Brent Johnson, famoso por propagar a teoria do "Milk Shake" na qual os EUA sugam toda a liquidez global antes de uma eventual "re-ordenação" monetária global, vem alegando que há uma escassez de dólares no mercado de eurodólares (contas em dólares fora dos EUA).
Bem, já vimos através do enorme déficit em conta corrente dos EUA, que o país vem transferindo trilhões de dólares por ano para o resto do mundo. O que temos, na verdade, é uma quebra no mecanismo de reciclagem de dólares pela falta de confiança dos gestores globais em investir em seus próprios mercados. Os dólares recebidos por exportadores mundo afora -- ao invés de serem convertidos em moeda local -- estão "empoçados" em contas offshore investidos em ações de empresas americanas.
E não é para menos. No Brasil ninguém quis combater os supersalários na noite de ontem. Na verdade, ninguém quer cortar custos ou combater supersalários em lugar algum. Nem mesmo nos EUA.
Assim, chegamos ao que, para alguns, era impensável. O gráfico abaixo nos mostra que o valor de mercado das ações dos EUA é agora superior ao somatório de valor de mercado das demais empresas listadas ao redor do mundo, excluindo as ações de empresas dos EUA.
Os EUA -- hoje responsáveis por menos de 25% do PIB global -- comandam uma alocação na carteira MSCI Global que é superior a 70%. Enquanto isso, a China -- responsável por aproximadamente 17% do PIB global -- conta com uma participação em tal carteira inferior a 3% -- um patamar menor do que a participação do Reino Unido. O Brasil é traço!
"What is going on, my friend?" No passado, em épocas de crise, o mercado me deixava falando sozinho. Ontem, entretanto, do nada, me veio a mente a letra de uma música que ouvia na infância que dizia o seguinte:
Assassinaram o camarãoAssim começou a tragédia No fundo do mar
O caranguejo levou preso o tubarãoSiri sequestrou a sardinha Tentando fazer confessar O guaiamum que não se apavora Disse: eu que vou investigar
Vou dar um pau nas piranhas lá fora
Vocês vão ver, elas vão ter que entregar
Vou dar um pau nas piranhas lá foraVocês vão ver, elas vão ter que entregar
Logo ao saber da notíciaA tainha tratou de se mandar Até o peixe espada Também foi se entocar
Malandro foi o peixe galoBateu asas e voou Até hoje eu não sei Como a briga terminou
Marink Martins