Coincidências Programadas

Inicio a semana com uma dose de ceticismo diante do cenário de aversão a risco que se faz presente nesta manhã. O noticiário nos diz que os mercados caem devido ao surgimento de uma nova cepa do coronavírus na Inglaterra, provocando assim, o receio de desaceleração da retomada econômica vigente.

Será? Ou será que este movimento de queda ocorre devido ao fato de que passamos por "quadwitching" (vencimento quádruplo de contratos derivativos) nesta última sexta-feira?

Já mencionei por aqui que o movimento ocorrido no Brasil na última quarta-feira - dia de vencimento de contratos futuros do Ibovespa - foi extremamente suspeito. Puxaram o índice justamente no horário de abertura da janela de precificação dos contratos. E foi uma das maiores puxadas de todos os tempos - 2.000 pontos.

Uma das coisas que mais me fascina nos mercados é que ora ele se comporta como em um movimento browniano, ora ele se comporta como em uma dança manipulada pela máfia italiana. Quando falei aqui sobre o tal "Ápice do Descolamento" pensei nesta segunda hipótese, pois o "mão forte" normalmente troca de mão justamente nos vencimentos dos contratos.

Todavia, colocando as minhas teses conspiratórias de lado, temos hoje razões para nos preocupar. Abaixo, seguem algumas delas:

• Pacote econômico nos EUA: O pacote será aprovado hoje. Contudo, o que observamos foi algo mais tímido cujo objetivo foi evitar um colapso nos mercados. Observe que existem 20 milhões de americanos que não estão pagando seus aluguéis. A moratória nos despejos foi postergada do dia 31/12 para o dia 31/01.
• Disputa pelas duas vagas na Geórgia: será de extrema importância. O banco Goldman Sachs nos diz que, caso os republicanos mantenham o controle do senado, este poderá ter sido o último pacote econômico associado a pandemia.
• Disputa pela liderança da câmara dos deputados no Brasil - o grupo de Maia parece ter vantagem. Isso coloca em risco as aprovações de reformas necessárias para que o Brasil melhore sua situação fiscal e retome o crescimento econômico/arrecadação de tributos.
• Efeito TESLA - A TESLA tende a ser um peso no índice S&P 500.
• Efeito Dólar - as apostas de desvalorização do dólar estão "crowdeadas". Qualquer repique no DXY tende a gerar um movimento de aversão a risco.
• Efeito CORRELAÇÃO das partes - um mercado saudável é um que tenha movimentos de rotação setorial. O gráfico abaixo - preparado pela LOGICAFUNDS de Mike Green - nos mostra que estamos em um movimento inusitado de altíssima correlação entre os membros do índice S&P 500.

É certo que muitas das razões discutidas acima já estavam presentes nas semanas anteriores. Contudo, como venho argumentando por aqui, entramos em uma semana de vida nova no que tange aos contratos derivativos. Vamos para a Série A das opções e para o WING21. Torço para que o comportamento destes contratos seja regido por uma maior racionalidade.

Marink Martins