Capitulação

29/03/2022

Neste momento em que escrevo, os contratos futuros do S&P 500 já superam o patamar de 4.600 pontos. Por aqui, os contratos futuros do IBOV romperam a barreira dos 121.000 pontos. O catalisador: notícias de que as negociações entre a Rússia e a Ucrânia -- ocorrendo neste momento na Turquia -- avançam de forma construtiva.

Estamos no fim do primeiro trimestre e os mercados adoram "enfeitar o pavão" ("window dressing") neste período, em um movimento cujo objetivo é melhorar a aparência das lâminas de investimentos dos diversos fundos de ações oferecidos ao mercado. E desta vez, este movimento coincide com um dos maiores "short squeezes" dos últimos tempos. Desde o dia 16/3 -- data da última reunião do FED -- uma reunião em que os membros do FOMC transmitiram uma mensagem mais conservadora ao mercado -- os mercados não pararam de subir.

Chegamos a um ponto de capitulação. Um ponto em que os "vendidos" dizem "NO MAS", "NO MORE, "NICHT MEHR" dependendo do local em que este está sendo "espremido"; seja o "espreme" oriundo de um sentimento de depressão associada a perda financeira, ou oriundo da incapacidade de honrar com chamadas de margens.

Curiosamente, estes eventos tendem a ocorrer puramente por razões técnicas. Do ponto de vista fundamentalista, não há muito o que celebrar nos mercados. Ontem, o índice IFO da Alemanha registrou uma enorme queda, evidenciando uma forte deterioração nas expectativas dos empresários daquele país. Já nos EUA, observamos uma inversão na parte longa da curva de juros dos "treasuries". A taxa dos títulos de 5 anos ficou superior à dos títulos de 30 anos. Tudo isso aponta para um cenário mais desafiador. Mesmo assim, os índices de bolsa não param de subir.

Sabe-se que, no curto prazo, os fundamentos pouco importam na precificação de ativos. No curto prazo, o que importa é a força financeira; é o fluxo. E neste momento, tudo indica que é chegada a hora do acerto de contas entre "comprados" e "vendidos". Aos "comprados": parabéns! Aos "vendidos": é melhor avaliar o erro e promover os ajustes necessários associados ao "tamanho" e ao "timing" da operação. Mais importante, aos "Zerados": caso esta tese de capitulação se materialize, hoje poderá ser um excelente ponto de entrada na "venda" dos ativos mencionados no primeiro parágrafo.

Marink Martins

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