Bitcoin: "BOOM OR BUST"?

28/08/2018

Ontem, pedi a Mariana Ratão, da equipe MyVOL, que acompanhasse o documentário da CNBC -- Bitcoin: Boom or Bust. Abaixo, segue a sua análise.

A CNBC exibiu nesta segunda feira o documentário "Bitcoin: Boom or Burst"; produzido pela jornalista jornalista Melissa Lee. Figuras excêntricas como Roger Ver ("Bitcoin Jesus") e Justin "Cryptokid" foram os astros da edição. Mas o bitcoin saiu da roda de seus libertários entusiastas: um dos administradores da corretora de criptomoedas Coinbase demonstrou o tamanho da liquidez deste mercado - 20 milhões de clientes da Coinbase movimentam 4 bilhões de dólares em bitcoins por dia. Além da Coinbase, Binance, OKEx, Bitfinex, Huobi, HitBTC, Bithumb e Kraken movimentam valores tão expressivos quanto. Um mercado bilionário, até poucos anos ignorado pelos governos e agentes institucionais, começa a ganhar legitimidade perante ao sistema bancário convencional.

O empresário Ran Neu-Ner, israelense radicado na África do Sul, diz para Lee que o número de pessoas sem contas bancárias no mundo ultrapassa os 2 bilhões - o meio de transporte de dinheiro mostrado por um sul-africano chega a ser surreal: um motorista de ônibus recebe a quantia em mãos e promete entregar para uma família no Zimbabwe. As criptomoedas são uma alternativa viável para estes mercados emergentes, onde muitas vezes a hiperinflação destrói todo o valor de compra do dinheiro local, e há um gap de serviços bancários, inacessíveis para a maioria da população.

Na Venezuela e no Zimbabwe, por mais volátil que seja o preço do bitcoin, a alternativa é muito mais segura que a moeda estatal - a corrupção e a pobreza na Venezuela chega a tanta que vemos notícias com os próprios agentes do estado cobrando propinas para liberarem o transporte de comida nas ruas. O lado revolucionário do bitcoin, pode, sim, diminuir a pobreza e melhorar a qualidade de vida, onde o nosso convencional está a milhas de se realizar.

Jordan Belfort - sim, ele mesmo, o Lobo de Wall Street - é a voz contrária aos criptoenstusiastas. Exatamente por ter sido um "scammer", comenta para Lee que a tão pregada descentralização do bitcoin não é autêntica, pois vê a concentração de bitcoins como tanta que Roger Ver sozinho poderia moderar o preço sem dificuldades.

Passando para outros bilionários do bitcoin, há os gêmeos Winklevoss, que inundam a SEC (Securities and Exchange Comission - a comissão de títulos e câmbio americana) com pedidos de criação de ETFs baseados na moeda. Este tipo de legitimidade perante à maquina estatal aproxima aos poucos o campo gravitacional do bitcoin para as inevitáveis ações regulatórias do governo. A exchange Bitfinex criou o token USDT (Tether) como espelho do dólar, controlando a emissão da moeda artificialmente - maneira muito habitual para quem está familiarizado com as políticas monetárias dos bancos centrais. E ainda mais problemática, pois as reservas em dólar para USDT da Bitfinex não são auditadas por terceiros desde 2017, quando a exchange rompeu relações com a firma Friedman LLP.

Como já sinalizou Hester Peirce, uma dos comissários que estão a cargo das decisões sobre a ETF baseada em bitcoin, a adoção da criptomoeda por market makers como Goldman Sachs, JPMorgan e Morgan Stanley demonstra a maturidade deste mercado. O bitcoin, ao se tornar adolescente, vai, aos poucos, abandonando os idealismos e se transformando no primo do sistema bancário.

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