Assimetria no mercado de ações

23/07/2024

O que um acadêmico pôde ensinar a gestores da britânica Baillie Gifford a respeito dos retornos sobre ações nos mercados globais?

A gestora britânica patrocinou um estudo sobre assimetria feito pelo professor Hendrik Bessembinder que analisou os retornos de 29.078 empresas durante o período entre 1926 e 2023. Seguem algumas conclusões e lições:

* As ações de 58% das empresas analisadas registraram um retorno inferior ao registrado pelas Treasury Bills durante o período de análise.

* As ações de 38% das empresas analisadas registraram ganhos modestamente superiores aos das T-bills durante o período de análise.

* Somente ações de 4% (1.092 empresas das 29.078 em análise) das empresas analisadas fizeram a diferença. Estas empresas geraram retornos bem acima daqueles registrados pelas T-bills. Ao longo do período de análise essas empresas geraram uma criação de valor em excesso ao retorno das T-bills de 35 trilhões de dólares. No estudo, o autor nos diz que metade dos 35 trilhões de dólares gerados foi atribuída a um pequeno grupo de 90 empresas.

A imagem abaixo é impressionante! Ela nos mostra o retorno acumulado, desde 1926, das ações de 29.078 empresas analisadas. O que impressiona é a diferença entre a média de retorno e a mediana de retorno.

Enquanto a média do grupo foi de aproximadamente 23.000% ao longo do período, a mediana (ponto que divide o grupo em duas partes iguais -- 14.539 empresas de cada lado) foi negativa em -7,41%. A assimetria é surpreendente!!!

Conforme podemos observar, um pequeno grupo de aproximadamente 4% das empresas analisadas "puxam" a média para cima, de forma que o retorno anual médio de todo o grupo ficou próximo a 13,5%. No estudo de Bessimbinder, 17 empresas registraram um retorno acumulado no período superior a 5.000.000%!!! (Veja abaixo as 20 empresas que mais "criaram" valor ao longo do tempo de análise considerado. Observe que a imagem capta o período de 1996 a 2017. Por isso, você não vê a Nvidia na imagem.

Conclusões e Lições:

Lição 1:

Foque em ações com enorme potencial de retorno ("growth stocks"). Em comum entre as empresas que se destacaram observa-se alto investimento em pesquisa e desenvolvimento e a presença de escalabilidade.

Lição 2:

Esteja preparado para perdas significativas ao longo do caminho de valorização ("drawdowns"). Sabe-se que as ações da Apple já amargaram perdas superiores a 70% em três ocasiões ao longo de sua história. Já as ações da Amazon chegaram a cair 93% após o estouro da bolha do Nasdaq.

Em um estudo com as 100 maiores empresas em cada década, constatou-se que o "drawdown" médio foi de 32,5% e o tempo de recuperação médio foi de 10 meses.

Lição 3:

Não assuma que as empresas de tecnologia irão crescer mais do que a média. Está certo que empresas como a Apple, Microsoft, Alphabet, Facebook, Amazon e Nvidia estão entre as que mais criaram valor ao longo dos últimos anos. No entanto, ao analisar as 200 empresas que mais criaram valor, observa-se que as petrolíferas, seguidas de "utilities" e telecomunicações, foram os destaques.


Em uma janela de 20 anos, as ações da Nvidia registraram o melhor retorno anualizado: 33,4%. Já ao longo de todo período de análise (começando em 1926 até 2023), o melhor retorno anualizado foi registrado pela empresa Altria (ex-Phillip Morris): 16,3%.

Das empresas analisadas em 1926, somente 98 delas chegaram vivas a 2023 (ponto final da análise).

Marink Martins

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