As aberrações do momento
Compartilho abaixo alguns gráficos ilustrando quão esticados estão os principais índices de ações dos EUA. Começando pela relação Preço/Lucro da carteira MSCI US.
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Mesmo que você considere que a relação de P/L seja um indicador problemático, observe que outros dados técnicos apontam para o exagero registrado no hemisfério norte. Em particular, chamo sua atenção para o índice de força relativa e também para o fato do preço estar "colado" na parte superior da Banda de Bollinger.
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Ainda no aspecto técnico do mercado, venho chamando a atenção dos assinantes para o fato da relação PUT-to-CALL Ratio estar na mínima. Isto é, o mercado está complacente, evitando adquirir proteção através de PUTs. Além disso, observamos que a média móvel de 200 dias do índice S&P 500 está em uma zona perigosa; sugerindo um processo de reversão à média.
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Um outro dado interessante diz respeito ao fato de que o rendimento dos títulos de 30 anos do governo americano agora está superior do que o rendimento associado a dividendos da carteira MSCI US.
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Há quem diga que desta vez é diferente. O que mais nos chama atenção é a atuação do FED. Observe abaixo as variações no total de ativos do FED e também os eventos que provocaram uma forte reação da autoridade monetária americana. Em dezembro o FED injetou 141 bilhões de dólares nos mercados...
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Sabe-se que muitos investidores, buscando proteção contra a expectativa de "debasement" da moeda americana, saíram em busca de commodities. Contudo, observe através do gráfico abaixo que -- excluindo a ações do setor petrolífero -- o segmento das commodities também já está esticado.
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Enquanto isso, as expectativas de inflação não param de subir. Está certo que Jerome Powell disse essa semana -- em evento realizado na Universidade de Princeton -- que ainda é muito cedo para se preocupar com uma elevação na taxa de juros. Todavia, preocupar-se faz parte da natureza dos mercados.
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Um outro fator que nos chama atenção é o fato de que, mesmo com o salto nas taxas dos treasuries, o poder de reação da moeda americana parece bem limitado.
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O leitor deve lembrar daquele famoso texto do Louis Gave em que ele adverte que os EUA estão em uma espécie de Hotel Califórnia dos juros baixíssimos. O país simplesmente não pode deixar a taxa subir pois seu endividamento está na estratosfera, como podemos ver através do gráfico abaixo. Um controle da curva de juros (Yield Curve Control) já está em curso.
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Há sinais de que o pior, no que diz respeito a pandemia, está ficando para trás nos países desenvolvidos. Sendo assim, a execução de um controle artificial da curva de juros poderá ser algo desafiador.
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Caso haja um processo de normalização das economias desenvolvidas a partir do verão americano, espera-se uma explosão da demanda por produtos e serviços. Isso deverá ocorrer justamente após o ano em que as famílias americanas registraram o maior salto patrimonial da história, como podemos ver no gráfico abaixo.
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Observe que toda esta grana irá bater de frente com um mercado em que os níveis de estoques estão baixíssimos. Prepare-se para problemas logísticos resultando em aumento de preços.
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Será que o FED irá dar conta de tudo isso. Louis Gave nos chama atenção a respeito do risco de que o FED não conseguirá entregar tudo que o mercado espera. Nesta caso, é possível que a taxa de juros de longo prazo continue subindo. Agora, caso o FED peque por excesso, o impacto deverá ser visto através de um dólar cada vez mais fraco.
Marink Martins