Analistas vs. Mercados
Entramos na última semana do terceiro trimestre. Há incertezas por toda parte. Questões de natureza fiscal e impasses políticos parecem estar em um tom mais elevado não só no Brasil, mas principalmente nos EUA. No entanto, a fonte de maior desconforto talvez seja a ansiedade em meio ao processo de desalavancagem que está em curso na China. Mesmo assim, um olhar mais frio nos mostra que os mercados parecem dançar em um ritmo mais otimista, ignorando os avisos de analistas. Vamos, brevemente, examinar este descompasso que parece estar em curso nos EUA e na China.
Começando pelos EUA, este descompasso se faz presente pelo fato de que analistas vem reduzindo, pela terceira semana seguida, as estimativas de resultados do 3T21 para as empresas do índice S&P 500. De acordo com a empresa Fact Set, os analistas estão prevendo que os resultados do 3T21 ficarão abaixo de 49 dólares, o que representaria uma retração de 7,5% em relação aos resultados registrados no 2T21. As razões para a queda na lucratividade mais citadas estão relacionadas à escassez de mão-de-obra e de suprimentos. Todavia, com o índice S&P 500 negociando em um nível que está a menos de 2% de sua máxima histórica, o comportamento do mercado parece indicar que os analistas estão simplesmente pessimistas demais.
Na imagem acima, observamos que analistas preveem resultados relativamente mais fracos para os próximos 3 trimestres. Os mercados, no entanto, passam uma mensagem de que estes analistas, em breve, terão que elevar rapidamente suas expectativas.
Agora passando para China que vem ocupando uma posição central no debate atual em relação aos mercados. Nas últimas semanas vem crescendo o número de analistas que passaram a considerar o mercado de renda variável do país como "uninvestable" (que deve ser evitado!). Mesmo assim, apesar da Evergrande e da possibilidade de contágio interno e externo, tanto o câmbio chinês como os títulos de renda fixa denominados em iuanes permanecem fortes. Não é de hoje que menciono por aqui que a China vem recebendo um enorme fluxo de recursos destinados aos CGBs ("Chinese Government Bonds"). Ironicamente, ao longo de 2021, o rendimento dos CGBs vem registrando uma significativa "outperformance" quando comparados aos rendimentos registrados pelos treasuries americanos, pelos Bunds alemães, pelos JGB japoneses, e até mesmo pelos títulos públicos brasileiros. Como podem os mercados de renda fixa e de câmbio se manterem tão fortes em meio ao que alguns analistas sugerem como um "Lehman moment" no mercado de renda variável chinês?
Para o Brasil estas questões são centrais. Visto pelo mundo como um membro de um grupo de países frágeis, o Brasil se vê em uma posição difícil, com sua bolsa e seu câmbio registrando um alto grau de desconfiança. Sofremos pelo receio de que haja uma "ressaca" ("taper tantrum") fruto de uma eventual mudança na expansão monetária nos EUA. Sofremos também com a possibilidade de um contágio em caso de um colapso na atividade econômica chinesa.
Se nossa "imunidade" parece ser baixa, isso é devido às nossas próprias mazelas. Embora haja saída para o Brasil, penso que não é hora de se iludir. A nossa bolsa e o nosso câmbio irão dançar conforme o ritmo resultante da solução dos emaranhados brevemente descritos acima. Sugiro monitorarmos e ajustarmos as expectativas diariamente ao som de cada batida.
Marink Martins