Ameaças oriundas do "velho continente"
Em um ano que se inicia de forma surpreendente, com praticamente todos os índices bursáteis globais registrando retornos positivos, é natural e prudente explorarmos possíveis fontes de disrupção. Um consenso entre os estrategistas que acompanho é que o continente europeu se apresenta vulnerável em meio a uma situação geopolítica que deixou de ser favorável aos grandes exportadores globais.
Ao olharmos a relação entre o volume financeiro exportado (bens + serviços) e o PIB, vemos que a Europa se destaca com uma economia extremamente dependente da corrente de comércio global. Como podemos ver pelo gráfico abaixo (a esquerda), tal relação na Europa representa 45% do PIB, contra 19% para os EUA e 12% para a China.
Já o gráfico a direita acima, nos mostra que, enquanto o setor externo crescia de forma consistente (linha azul), a demanda interna vem se arrastando por diversos fatores. Assim, o crescimento econômico europeu que rondava patamares próximos a 3% ao ano em 2017, se desacelerou e está mais próximo de 1% ao ano.
A grande dúvida é se teremos por lá um "pouso suave", com crescimento anual entre 1% e 1,5%, ou se teremos um "pouso forçado", com o crescimento econômico colapsando e forçando as autoridades monetárias a embarcar em novos estímulos econômicos.
Com as economias da China e dos EUA mostrando sinais de desaceleração, há razões para se preocupar com a possibilidade de que a "máquina" exportadora europeia irá acusar o golpe e se tornar uma fonte de preocupação para os mercados.
Para piorar, existem dois riscos iminentes: a possibilidade de um "hard BREXIT" e a possibilidade de que os EUA irão impor tarifas sobre a importação de veículos e auto-peças. Uma decisão a respeito deste segundo tema será tomada agora, dia 17 de fevereiro, e pouca gente vem discutindo este assunto.
Desde maio de 2018, o departamento de comércio dos EUA vem investigando esta situação. O mais provável, apontam especialistas, é que o país irá impor tarifas utilizando como base a seção 232 do US Trade Act.
E tudo isso ocorre em um momento onde as vendas de veículos oriundos da Europa caem, como podemos ver no gráfico abaixo (a esquerda). Mesmo assim, conforme ilustrado no gráfico abaixo a direita, o superavit comercial europeu neste setor é tão grande que o torna vulnerável a campanha de Trump em busca da redução do déficit comercial norte americano.
Há quem especule também sobre a possibilidade de que Trump chegue a um acordo comercial com os chineses e passe a atacar os europeus como uma forma de manter a sua fama de grande negociador perante seus eleitores.
No vídeo abaixo, especulo de forma um tanto conspiratória, sobre a possibilidade de que uma eventual derrocada do euro poderá fazer com que investidores europeus se tornem os grandes financiadores da dívida americana. Confira:
Marink Martins