A virada dos cíclicos
Nos últimos dias, pela segunda semana consecutiva, registramos a tão aguardada recuperação relativa dos ativos cíclicos. Aqui no Brasil, as ações da Petrobras emplacaram 4 dias de altas expressivas sem qualquer movimento de reversão a média. De repente, o mundo parece ter acordado para a possibilidade de que, não só o preço do barril caminha para 100 dólares, mas também para a possibilidade de que a Petrobras está bem posicionada para tirar proveito desta tendência.
Curiosamente, tudo isso ocorre em um momento de grande incerteza com relação aos preços dos ativos norte-americanos; em particular, aqueles associados a beta elevados (os ativos de longa duração). Disso tudo, uma importante questão é detectar se é possível vermos este tipo de rotação setorial sem que os principais índices americanos entrem em um forte ciclo de baixa. Sabe-se que, nos últimos anos, o índice S&P 500 ficou bem concentrado, com as ações de tecnologia, de forma conjunta, exibindo um peso expressivo demais. Assim, um cenário em que ações cíclicas venham a se apreciar na mesma proporção de uma deterioração no preço das ações de tecnologia é um que tende a resultar em um ciclo de queda nas bolsas.
Para uma melhor compreensão desta dinâmica é importante que o leitor tenha consciência a respeito de dois fenômenos que foram muito importantes ao longo dos últimos anos:
1. Indexação
2. Reciclagem de dólares
O fenômeno da indexação se refere ao fato de que, cada vez mais, os investimentos feitos em renda variável vem ocorrendo de forma passiva através de ETFs. Tudo isso contribui para um processo perigoso em que um ativo caro tende a ficar mais caro; simplesmente devido as forças da indexação.
Já o fenômeno da reciclagem de dólares é mais complexo e tem a ver com a forma pela qual o mundo vem investindo os frutos dos mega déficits comerciais registrados pelos EUA. Estes dólares que chegam a países exportadores como a China, a Alemanha, Arábia Saudita e outros, historicamente eram investidos em "treasuries". No entanto, sabe-se que houve um recuo por parte dos investidores estrangeiros neste sentido. Nos últimos anos, fundos de pensão e, mesmo bancos centrais, diversificaram seus investimentos em dólares comprando ativos de "private equity" e ações listadas em bolsa. Ao fazer isso, contribuíram de forma expressiva para esta imensa defasagem que se faz presente entre as performances dos ativos norte-americanos e dos ativos globais.
Por tudo isso, saber se é possível ver a continuidade do rally dos cíclicos em meio a uma saída de ativos de longa duração me parece mais uma questão associada a fluxo do que a fundamentos. E em se tratando de fluxos -- ainda mais no primeiro mês do ano -- este é um tema do mais difíceis de se prever. Por isso vamos monitorando este movimento a cada dia.
Marink Martins