A maior das anomalias

25/07/2024

Para a casa de pesquisa Gavekal a anomalia mais gritante é a defasagem da moeda japonesa (JPY) em relação à moeda norte-americana (USD). Tal relação chegou a registrar 161 ienes por dólar. Nos últimos dias, porém, testemunhamos uma recuperação da moeda japonesa para o patamar de 152 ienes por dólar. Especula-se que esteja em curso uma intervenção do Banco do Japão, mas nada de oficial até o momento. O fato é que para a casa de pesquisa, mesmo após a recente valorização da moeda japonesa, a defasagem em relação ao preço considerado justo (levando em consideração o conceito de paridade do valor de compra da moeda) ainda é superior a 30%. Isto é, a moeda japonesa ainda tem muito espaço para se valorizar em relação ao dólar.

Há quem diga que a valorização da moeda japonesa é ruim para a moeda brasileira. Teme-se que com a apreciação do iene diversas operações de "carry trade" seriam "desmontadas", forçando uma desvalorização do real brasileiro. A história, entretanto, aponta na direção contrária. Momentos de apreciação do iene frente ao dólar coincidiram com períodos de valorização de moedas de países emergentes.

Dentre as anomalias presentes nos mercados, a que mais me chama atenção não é a cambial, mas sim uma associada à diferença de VOL.

A maior anomalia, na minha opinião, ocorre no diferencial de volatilidade implícita associada aos ativos S&P 500 e IBOV. Eu sei que venho insistindo neste tema insistentemente. Todavia, neste momento em que escrevo, o VIX (volatilidade implícita associada aos contratos de opções de 30 dias para o S&P 500) está registrando um patamar de 17,84%. Enquanto isso, o contrato de opção de compra de BOVA11 com o preço de exercício de 125 reais e vencimento para 16/08/2024 está com uma volatilidade implícita de 12,3%!!!!!!!!!!!!

Acima, a linha verde ilustra o salto do VIX em um período de uma semana.

Na segunda-feira, publiquei um texto cujo título foi "Na contramão do S&P 500". Este diferencial de VOL entre os dois ativos -- algo inusitado e extremamente relevante -- me deixa cada vez mais confiante que o IBOV está entrando em uma fase que tende a ficar "descolado" do S&P 500. Não só "descolado" (baixíssima correlação), mas também mais forte do que o S&P 500.

Ontem, o respeitadíssimo Bill Dudley -- ex-presidente do FED de NY -- virou a mão e sugeriu, através da publicação de um editorial (op-ed), que o FED corte a taxa de juros imediatamente. Tal op-ed teve repercussão ao longo de toda a quarta-feira na mídia financeira.

Assim, há indícios de que nos aproximamos de um evento que tende a ser um importante catalisador para uma "outperformance" do IBOV. Refiro-me ao momento em que o FED irá começar a cortar a taxa básica ("fed funds") da economia americana. Tal momento deverá representar, ao mesmo tempo, dois importantes eventos:

1. Ponto de inflexão do crescimento econômico americano. Isso já está em curso; mas falta o FED sancionar o movimento e começarmos a ver uma intensificação da "des-inversão" da curva de juros dos EUA; isto é, a taxa de juros dos títulos longos passa a subir em relação a taxa de juros dos títulos curtos. Lembre-se que o FED define a taxa curta, enquanto o mercado define a taxa longa. 

2. Ponto de afrouxamento monetário global. Isso também já está em curso; mas falta o FED sancionar o movimento e começarmos a ver um dólar mais fraco e uma maior liquidez global.

Marink Martins

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