A importância das condições iniciais

27/04/2021

Na tabela abaixo temos uma série de dados macroeconômicos associados à economia americana, organizados por décadas. Dentre as colunas, da esquerda para direita, temos: salários, inflação, crescimento do PIB nominal, retornos sobre os imóveis, retornos sobre as ações, retornos sobre os títulos do tesouro de longo prazo, retornos sobre os títulos de curto prazo, lucratividade, taxa de juros, e, finalmente, o "valuation" na forma de um múltiplo de Preço/Lucro associado ao mercado acionário.  

Confesso que poderia escrever umas 10 páginas sobre esta tabela, mas prometo que não vou torturar o leitor. Vou me ater a três fatores que estão fortemente correlacionados com os retornos associados ao mercado acionário. São eles: 

1. As condições iniciais: décadas em que o múltiplo de P/L inicial é mais baixo, normalmente resultam em retornos mais elevados para o período. Isso é intuitivo. Como podemos ver na tabela, a década de 30 começou cara e resultou em retornos anuais negativos. O mesmo ocorreu na década iniciada no ano 2000. 

2. Inovação: períodos marcados por desenvolvimento tecnológico contribuem não só para uma valorização das ações, mas também para exageros. De forma um tanto seletiva (eu sei), posso mencionar aqui novamente o período conhecido como "roaring 20s" (os esfuziantes anos 20) que contribuiu para famosa crise de 29, como também o período marcado pelo surgimento da internet que contribuiu para a bolha do Nasdaq. Como podemos ver, as décadas subsequentes registraram retornos anuais negativos.

3. Crescimento populacional: esse talvez seja um dos fatores menos discutidos, mas que julgo ser importantíssimo. Basta lembrar que na copa de 70 se cantava o seguinte refrão: "70 milhões em ação pra frente Brasil, salve a seleção!" Hoje, somos mais de 210 milhões de cidadãos. Da mesma forma, nos anos 50 havia 50 milhões de famílias nos EUA; hoje existem 131 milhões! Ninguém "surfou" esta onda do crescimento populacional tão bem como o oráculo de Omaha, Warren Buffet. 

É natural que existam diversos outros fatores que, de uma forma ou de outra, exercem influência no retorno anual das ações. Todavia, os três fatores listados acima se destacam.

Trazendo tudo isso para o nosso Zeitgeist (espírito do tempo), temos vento de proa ("headwinds") no item 1 e 3. Já o item 2 -- inovação -- é onde reside a esperança dos otimistas. Eu, como um cauteloso, argumento que boa parte da inovação terá que ser direcionada para impedir que o nosso planeta se torne um lugar inabitável. Tudo isso será custoso e deverá impactar negativamente os retornos subsequentes. Por tudo isso, argumento que o "bull market" americano deva ser encarado do ponto de vista da busca pela tendência. No primeiro sinal de deterioração, o barco deve ser abandonado rapidamente. 

Marink Martins

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