A concorrência dos BDRs/ETFs
Começamos esta semana mais curta com os principais índices globais registrando quedas expressivas. Dentre as razões para o recuo podemos especular que tanto uma maior disseminação da variante omicron assim como a decisão do senador norte-americano Joe Manchin de não apoiar o projeto BBB ("Build Back Better") de Joe Biden contribuem para uma postura defensiva por parte dos agentes de mercado. Dito isso, opto aqui por começar a semana explorando um tema que julgo ser importante no que diz respeito a atratividade das ações brasileiras frente a uma maior oferta de ativos disponíveis, tanto a investidores institucionais como investidores pessoas físicas, na bolsa brasileira.
Falo sobre a disponibilidade de BDRs e ETFs na B3. Tal disponibilidade é certamente algo positivo para os investidores e para a B3. Hoje mesmo a B3 disponibiliza o acesso a dois ativos: um associado ao índice alemão (DAX) e outro associado ao índice europeu STOXX 50. Não é de hoje que argumento que esta maior oferta de ativos irá aos poucos reduzir de forma consistente a atratividade de empresas domésticas listadas na B3.
Não entenda isso como algo negativo e/ou algo que deva ser evitado através de regulamentações ou legislações. Dou destaque a este tema, pois em um passado distante (lá nos anos 90), trabalhei com pessoas que estruturam uma empresa de propósito específico para aquisição de ações que, por estarem restritas ao acesso de investidores estrangeiros, negociavam com um mega deságio em relação a ações da mesma empresa que não tinham estas restrições.
Quem viveu naquela época provavelmente já sabe que me refiro aqui ao deságio que o preço das ações ordinárias da Petrobras exibiam em relação ao preço das ações preferenciais. Naquela ocasião o deságio era de aproximadamente 40%. A possibilidade de que uma mudança na regra estava por vir, suscitava o interesse na estruturação de tais empresas que viabilizavam um acesso indireto do investidor estrangeiro a aquele ativo que na ocasião era considerado um ativo restrito.
Você pode estar se perguntando: mas qual é a ligação entre os BDRs/ETFs atuais com aquelas restrições esdrúxulas dos anos 90?
Bem, o que busco transmitir aqui é que, assim como a PETR3 sofreu nos anos 90 devido a ausência do investidor estrangeiro, é possível que, aos poucos, ações de algumas empresas domésticas venham a sofrer pela ausência do próprio investidor doméstico!
O número de investidores domésticos que estão alocados em BDRs/ETFs já é superior a 275.000. Com o tempo, caso não surjam restrições a este movimento de diversificação global, esta é uma tendência que tende a se intensificar. Como consequência, penso que não devemos nos surpreender com a possibilidade de que os preços das ações domésticas passem a carregar um "desconto" em termos de múltiplos de P/Ls cada vez maior de forma a compensar esta maior concorrência que só faz se intensificar.
Marink Martins